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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Nunca mais um Brasil sem Sonia, sem Anielle, sem esporte, sem nós

As ministras Anielle Franco e Sonia Guajajara durante cerimônia de posse no Palácio do Planalto - Ueslei Marcelino/Reuters
As ministras Anielle Franco e Sonia Guajajara durante cerimônia de posse no Palácio do Planalto Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

12/01/2023 15h02

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O esporte salvou a vida de Anielle Franco. Empossada ao lado da também histórica Ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara, a mais recente ministra de estado do Brasil não cansa de afirmar a importância que o vôlei teve em lhe proporcionar um futuro mais seguro e o acesso a uma educação de qualidade.

Aos 16 anos, a então moradora do Complexo da Maré, recebeu uma bolsa integral para estudar e competir nos Estados Unidos, onde viveu por 12 anos, tornando-se mestra em inglês e jornalismo, pela Universidade da Flórida A&M. Hoje, ela é doutoranda em Linguística Aplicada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O alto rendimento está recheado de histórias de vidas salvas pelo esporte — que também deveria ser um direito garantido a todas as crianças. Nesse caso, quis a vida (e a morte) que essa vida salva se dedicasse a algo ainda mais importante do que ganhar medalhas ou levantar troféus.

Anielle Franco, agora Ministra da Igualdade Racial de um dos países mais desiguais do mundo, tem um desafio hercúleo pela frente. Ela, como mulher mãe negra e periférica, como irmã de Marielle, sabe disso como ninguém.

"Não podemos mais ignorar ou subestimar o fato de que a raça e a etnia são determinantes para a desigualdade de oportunidades no Brasil em todos os âmbitos da vida. Pessoas negras estão sub-representadas nos espaços de poder e, em contrapartida, somos as que mais estamos nos espaços de estigmatização e vulnerabilidade", ela afirmou em seu discurso.

Em determinado momento, com lágrimas nos olhos, contei as pessoas presentes no palco, no lugar de mais absoluto destaque, com o presidente Lula ao centro. Eram 15. Apenas três homens brancos. Havia pessoas indígenas, negras, trans, a maioria de mulheres. Margareth Menezes e Marina Silva, também ministras, choravam de mãos dadas na primeira fileira. Era o Brasil. Colorido. O Brasil de verdade. O Brasil que ainda (ainda!) não comanda o Brasil, mas que carrega o Brasil nas costas diariamente.

Sou uma mulher branca e tenho um filho branco. O privilégio deste estado nesse Estado em que vivemos é tremendo. Não ter consciência disso é perigosíssimo e lutar pela igualdade é um dever absoluto.

Não à toa precisamos, ainda, de Ministérios específicos para tratar de questões das Mulheres, dos Povos Indígenas e da Igualdade Racial. E que simbólico termos agora, pela primeira vez, também uma mulher à frente da pasta do Esporte, na figura de outra atleta de voleibol, Ana Moser.

Para citar nossas ministras com quem tanto tanto me emocionei na belíssima e potente cerimônia de ontem:

Nunca mais um Brasil sem nós.

Não recuaremos.

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