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Deputada e conselheira do Corinthians explicam PL da meia-entrada feminina
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Além de um projeto de lei inspirado no caso Daniel Alves, Sâmia Bomfim (PSOL-SP) protocolou no início da nova legislatura um PL pela meia-entrada para mulheres em jogos de futebol. Caso aprovada, a lei afetaria clubes e instituições de toda ordem no território brasileiro. O benefício seria concedido em até 50% do total dos ingressos disponíveis para cada partida.
A deputada federal foi procurada por Analu Tomé, conselheira do Corinthians e cofundadora do Movimento Toda Poderosa Corinthiana. A articulação conjunta resultou no PL 168/2023, que agora tramitará no Congresso.
Dentre as justificativas, o projeto destaca a construção histórica da cultura futebolística no Brasil, que por décadas chegou a proibir a prática do esporte por mulheres, resultando na marginalização de jogadoras, árbitras, torcedoras, jornalistas, comentaristas e na ocupação de cargos diretivos dos clubes. Essa desigualdade de gênero, segundo o texto, afeta não só a participação, como gera baixos salários e contratos curtos para mulheres no mundo do futebol.
"Há, inclusive, uma ausência de políticas públicas de incentivo e investimento para que mulheres joguem e assistam ao futebol", afirma Sâmia. "Ainda que a situação esteja mudando, e hoje sejamos parte significativa das torcidas, não é raro o desconforto de mulheres em estádios, em especial quando estão desacompanhadas de figuras masculinas. Queremos com esse projeto contribuir para que mais mulheres vejam e sejam vistas como parte do mundo do futebol."
Perguntei à parlamentar se a instituição de um vasto número de ingressos obrigatoriamente mais baratos não arriscaria deixar as entradas mais caras? Afinal, já vemos isso em shows e outros eventos: a famosa metade do dobro.
"A meia-entrada permitirá que cada vez mais ingressos sejam vendidos. Afinal, sem esse incentivo, dificilmente mães solo, mulheres em subempregos e mulheres em situação de desigualdade salarial teriam chances mínimas de participarem desses jogos, como é o caso de muitas brasileiras. Anualmente, no dia 8 de Março, os clubes já promovem ações semelhantes muito vitoriosas. Quanto mais ingressos forem vendidos, melhor para as vendas, já que além dos ingressos, muitas vezes não esgotados, essas mulheres poderiam consumir serviços e produtos comercializados nesses jogos. Parte-se da análise que o incentivo não beneficia só a mulher, mas toda a cadeia de consumo que envolve o futebol. Quanto à fiscalização do repasse dos custos ao consumidor, temos que seguir enfrentando esse debate em todo o mercado de cultura, esporte e lazer, assim como fazemos nos direitos da meia para estudantes, crianças e idosos."
A conselheira corinthiana Analu Tomé olha para o contexto também do ponto de vista da violência.
"Recentemente uma decisão judicial, após uma briga entre torcidas, permitiu que o Athletico-PR recebesse apenas mulheres e crianças num jogo do campeonato estadual. O resultado foram 37 mil torcedoras, recorde de público da última década do campeonato. As perguntas que ficam são: onde estão todas essas mulheres em jogos com portões abertos também ao público masculino? Por que elas não se sentem à vontade para torcer nos estádios? Queremos ampliar a nossa presença nos estádios." declarou a conselheira do Corinthians, Analu Tomé.
Mas se o que afasta as mulheres do estádio é majoritariamente a segurança, como oferecer descontos e um tratamento diferenciado ataca esse problema? Ver só mulheres no estádio, como nos últimos exemplos em Curitiba, não deixa a mensagem de que homens não podem conviver pacificamente com mulheres e crianças?
Para Sâmia, "o assédio sexual e as múltiplas facetas da violência de gênero são as principais causas da baixa adesão de mulheres ao cotidiano dos estádios de futebol, mas não são as únicas".
Ela explica que o fundamento da medida da meia-entrada com o recorte de gênero é a inclusão material de mulheres nesses ambientes para além do posicionamento reativo das muitas situações de violência. "Se um espaço é ocupado majoritariamente por homens, como é o caso do futebol brasileiro, dificilmente os debates sobre a inclusão e a participação das mulheres estarão no centro da discussão sobre os avanços do esporte. Ainda, há que se considerar o histórico de avanços de direitos das mulheres, muitas das vezes restritos à perspectiva doméstica; trata-se de enxergar a mulher como detentora do direito da vida pública e das oportunidades de lazer."
O projeto ainda precisa ser debatido, e votado na Câmara e no Senado.
Segundo a deputada federal, que em setembro de 2022 propôs o PL que trata de medidas de proteção das vítimas em casos de assédio e importunação sexual ocorridas em arenas de futebol, o objetivo não é afastar o público masculino.
"Trata-se não da tentativa de retirar homens das cadeiras dos estádios, mas de ocupá-las com mulheres e os debates a elas intrínsecos, que permitem o amadurecimento de toda a sociedade."
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