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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Futebol brasileiro: o que o Palmeiras tem que o Flamengo não tem (parte 2)

Jogadores do Palmeiras celebram título da Supercopa do Brasil após vitória eletrizante sobre o Flamengo - Ettore Chiereguini/AGIF
Jogadores do Palmeiras celebram título da Supercopa do Brasil após vitória eletrizante sobre o Flamengo Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

10/02/2023 14h11

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Na coluna de ontem, comecei uma breve análise da situação atual dos dois clubes mais vencedores da atualidade, com foco no Rubro-negro. Hoje, trago minha visão sobre o Alviverde.

O Flamengo tem mais dinheiro do que o Palmeiras. Tem mais craques do que o Palmeiras. Tem (bem) mais torcedores do que o Palmeiras. Tem uma capacidade de gerar receita e investir muito superior à do Palmeiras.

Mas não tem um projeto esportivo como o do Palmeiras. Uma visão de futebol que guia o trabalho dos jogadores e da comissão técnica.

O Palmeiras mantém a sua comissão técnica há mais de dois anos. Uma comissão técnica antenada com os conceitos modernos de futebol, que utiliza a estrutura científica do clube a seu favor e valoriza as categorias de base - são nove Crias no elenco atual.

Por mais criticada que seja por suas (não) contratações, o Palmeiras tem uma diretoria de futebol que demonstra profissionalismo. Dificilmente cede às cobranças e pressões externas.

Alguém consegue imaginar o Anderson Barros puxando coro com provocação ao Real Madrid no vestiário? Conseguem imaginar a reação do Abel a qualquer um que fizesse isso?

O Palmeiras não contrata por contratar, nem se propõe a criar factoides para agradar à torcida. O clube vai ao mercado pontualmente em busca de jogadores com características específicas, definidos em conjunto com a comissão técnica. Erra, claro, mas tem critérios.

O Palmeiras, por tudo que se ouve dos bastidores, busca o melhor ambiente de trabalho possível. Por isso, sempre que vai ao mercado, antes avalia de forma minuciosa o perfil e o histórico do atleta desejado. Não basta o jogador ser bom; ele precisa ser bom, ter fome de títulos e entender que as metas do clube estão acima dos seus interesses pessoais.

De novo, contrata errado também e faz apostas que não vingam. Com critério.

O Palmeiras não tem os melhores jogadores, mas tem o melhor time. O Flamengo tem os melhores jogadores, mas não tem o melhor time. E time, neste caso, diz respeito não somente aos 11 que entram em campo, como também ao aspecto coletivo.

O Flamengo opera no caos e, ainda assim, consegue vencer porque, financeiramente, sobra em relação à concorrência, incluindo o Palmeiras - basta ver quanto cada um recebe da Globo.

Um exemplo: o Flamengo ostenta as cinco maiores contratações da história do nosso futebol. Gérson, 2023 (R$ 92 milhões); Pedro, 2020 (R$ 87 milhões); Éverton Cebolinha, 2022 (R$ 87 milhões); Gabigol, 2020 (R$ 79 milhões); e Arrascaeta, 2019 (R$ 64 milhões).

O Palmeiras tem um projeto esportivo, uma visão clara de futebol. Hoje, dá para entender o que o Palmeiras realiza para conseguir competir e vencer. Basta ver que praticamente não oscila, mesmo quando perde peças fundamentais (Veiga, Danilo, Scarpa).

Tem padrão, tem projeto. Isso se reflete, inclusive, na idolatria da torcida com Abel Ferreira. Entendem que sem ele, sem o que ele ajudou a construir, sua continuidade, seus estudos, dificilmente este elenco haveria conquistado tanto.

Ressalto o óbvio outra vez: não é perfeito. Longe disso. E dispõe de uma situação financeira tranquila — não por acaso, aliás — que lhe permite uma série de vantagens em relação a outros clubes.

Em vez de minimizar os feitos, chamar tudo de clubismo, caçar pelo em ovo para desmerecer quem trabalha duro, há muita gente que se beneficiaria entendendo a fundo o modelo e tentando aplicar algumas das lições oferecidas pela Quarta Academia.

Deixar para reconhecer tudo isso só pelo viés distante da história, olhando para trás, é desperdiçar a oportunidade de crescer junto e até de fazer melhor.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL