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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Futebol, a tragédia das chuvas e o desejo brasileiro pela solução milagrosa

Destruição causada por fortes chuvas no bairro Veloso, em Ilhabela, São Paulo - 19.fev.2023 - Maurício Amorim / @drone.mar
Destruição causada por fortes chuvas no bairro Veloso, em Ilhabela, São Paulo Imagem: 19.fev.2023 - Maurício Amorim / @drone.mar

22/02/2023 12h46

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No futebol é comum falarmos dos mesmos assuntos em um loop que parece eterno.

Fulano de volante não dá. Sicrano insistindo nesse esquema tático cretino. Beltrano que vive tomando cartão. Clube X que contrata mal. Clube Y que não contrata. Etc. Etc. Etc. É só fazer isso e aquilo que resolve. Larga de ser burro, treinador/jogador/dirigente.

Às vezes irrita, mas sabemos se tratar da natureza do esporte. Mudam os atores, permanece a arte. Inclusive, a arte de cornetar.

O que acontece no mundo real, porém, não é arte. Embora seja pura tragédia. E mais trágica na medida em que também acontece em um loop cruel, que insiste em ser repetido.

Um ano atrás, mais de 230 pessoas morreram em Petrópolis, em decorrência de fortes chuvas. Em maio, mais de 120 morreram em Pernambuco pelo mesmo motivo. Só nos primeiros cinco meses de 2022, quase 500 brasileiras e brasileiros perderam a vida nesse tipo de desastre.

Agora, no litoral paulistano, as chuvas já deixaram ao menos 48 mortos e 57 pessoas permanecem desaparecidas.

Mas não são as chuvas que causam as mortes. São as pessoas. As autoridades, que seguem se mostrando incapazes de construir uma estratégia de longo prazo para resolver um problema que é tão certo de acontecer em fevereiro quanto o carnaval.

Obras para prevenir tragédias não dão voto. "Defender que a solução para prevenir desastres como o que aconteceu no litoral norte de São Paulo é simplesmente retirar as pessoas das áreas de risco é falta de senso de realidade. Tirar para onde? Sem uma política de moradia, você retira a família e ela vai para outra área de risco", disse à coluna do Sakamoto o secretário nacional de Políticas para Territórios Periféricos do Ministério das Cidades, Guilherme Simões.

No futebol, todo mundo acha que é técnico e tem a solução para os problemas mais complexos. Aqui, na realidade dos mortais, o buraco é de fato muito, muito mais embaixo. As soluções exigem planejamento, investimento e visão de longo prazo. Soluções que, ao contrário do carnaval, nada têm de milagrosas.

Elas exigem paciência, insumo raríssimo no Brasil. Dentro e fora dos gramados, na realidade paralela e naquela em que habitamos, caminhando de tragédia em tragédia ao som de marchinhas momescas.

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