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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

BBB, Robinho, Daniel Alves: só as mulheres correm para acolher as vítimas

BBB 23: MC Guimê e Cara de Sapato em seus últimos Raio-X - Reprodução/Globoplay
BBB 23: MC Guimê e Cara de Sapato em seus últimos Raio-X Imagem: Reprodução/Globoplay

17/03/2023 12h00

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Eu nem acompanho Big Brother, mas foi impossível não ser impactada nos últimos dias pelos acontecimentos da casa mais vigiada do Brasil.

Isso porque, justamente na casa mais vigiada do Brasil, homens fizeram o que vêm fazendo há séculos com mulheres. Desrespeitaram nossas vontades e nossos corpos. Trataram-nos como coisa. Se eu quero, eu pego.

Tocar ou agarrar alguém sem o consentimento da pessoa não é só obviamente errado. É crime. Desde a importunação sexual até o estupro, tudo é crime e não é de ontem.

O que não impediu que dois deles, os tais MC Guimê e Cara de Sapato, assediassem duas mulheres, ao vivo, na maior Cara de Pau.

E quem se solidarizou com a companheira de Guimê e as vítimas do BBB? As mulheres. Como sempre, ficamos gritando dentro da nossa bolha, enquanto os responsáveis pelo problema fingem que nada acontece.

Ah, mas foram expulsos do programa. Nossa, tadinhos.

Tadinhos também do Robinho, Daniel Alves e a outra infinidade de jogadores acusados de violência contra a mulher, né? Afinal, eles são inocentes até se prove o contrário.

Nesse meio-tempo, continuamos normalizando as pequenas — e até as enormes — violências contra nossas existências.

E sabem por que a gente corre para se pronunciar a favor umas das outras, sem pestanejar? Porque a gente sabe o que a gente passa. Porque a gente sente na carne a dor da outra, porque ela também é nossa. Porque ela reflete a nossa experiência de vida com os homens.

Difícil encontrar uma mulher da minha idade que não tenha sido, alguma vez, puxada pelo cabelo ou pelo braço, ou recebido uma apalpada na bunda, nos peitos e até nas partes mais íntimas. Está tudo para jogo. É um elogio. Deixa de ser escrota, mal humorada, vem cá e me dá um beijo logo.

A gente não aguenta mais. Pelo amor da deusa, caras, entendam que vocês são, no mínimo, coniventes senão cúmplices ou culpados pelo que acontece conosco todas as horas de todos os dias. Façam alguma coisa. Façam terapia. Façam a diferença.

Do nosso lado, cada vez mais internalizamos a sabedoria de Emicida: tudo que nóis tem é nóis. O que serve de pouco consolo quando o problema são vocês.

Parem. Apenas parem. E não reclamem se a polícia bater na sua porta.

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