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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rita livre nos deu permissão para ir além

Rita Lee com a camisa do Corinthians em show. - Reprodução/Twitter
Rita Lee com a camisa do Corinthians em show. Imagem: Reprodução/Twitter

09/05/2023 15h12Atualizada em 09/05/2023 22h04

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Minhas referências estão morrendo.

Hoje, foi Rita Lee.

Recebi a notícia de Marcelo Barreto, na bancada do Redação SporTV, ao vivo, sentada ao lado de Charles Gavin. Quis o destino que eu estivesse sentada ao lado de um amigo de Rita. Amigo e fã. Porque todo mundo é fã de Rita. Ou bom sujeito não é.

Rita é tanta coisa para tanta gente, que falar de sua morte parece impossível. Porque ela não morreu. Não de verdade. Porque não pode. Porque a gente precisa dela.

Rita foi pioneira. Foi presença. Foi representatividade.

Por ver Rita lá, tantas de nós acreditamos que podíamos também estar em algum lugar.

Mais do que isso, podíamos estar em qualquer lugar. Mais do que isso ainda, podíamos estar com autenticidade. Diferentes. Barulhentas. Turbulentas. Feiticeiras. Novas. Velhas. Freiras. Putas.

Descobrimos que Deus podia, sim, dar asa à nossa cobra. Ainda que nossa força não fosse bruta.

Rita abriu caminhos, chutou portas e escancarou verdades.

Rita não cedeu.

Ao brilhar em um universo profundamente masculino (para não dizer misógino), Rita nos deu permissão para ir além. Porque nem toda brasileira é bunda.

Rita foi Corinthians. Muito. Foi democracia. Demais.

Não. Rita não foi. Rita é.

Porque Rita é um estado. Um estado de fulgor. Uma chama que balança, queima, assusta e não cessa. Porque só quem já morreu na fogueira sabe o que é ser carvão.

Obrigada, Rita. Por ser Rita Livre. Por ser todas nós.

PS: Já leram o que Rita escreveu sobre o próprio velório?

Profecia

"Quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá, colegas dirão que farei falta no mundo da música, quem sabe até deem meu nome para uma rua sem saída. Os fãs, esses sinceros, empunharão capas dos meus discos e entoarão 'Ovelha negra', as TVs já devem ter na manga um resumo da minha trajetória para exibir no telejornal do dia e uma notinha no obituário de algumas revistas há de sair. Nas redes virtuais, alguns dirão: 'Ué, pensei que a véia já tivesse morrido, kkk. Nenhum político se atreverá a comparecer ao meu velório, uma vez que nunca compareci ao palanque de nenhum deles e me levantaria do caixão para vaiá-los. Enquanto isso, estarei eu de alma presente no céu tocando minha autoharp e cantando para Deus: 'Thank you Lord, finally sedated'".

Epitáfio: Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa.

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