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Alicia Klein

OPINIÃO

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Vini Jr: racismo seguirá enquanto branquitude buscar soluções confortáveis

Vini Jr do Real Madrid, reage após gritos de macaco da torcida do Valencia em jogo no estádio Mestalla - JOSE JORDAN/AFP
Vini Jr do Real Madrid, reage após gritos de macaco da torcida do Valencia em jogo no estádio Mestalla Imagem: JOSE JORDAN/AFP

22/05/2023 14h34Atualizada em 22/05/2023 16h57

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As cenas de mais um ataque racista a Vinicius Jr., de ontem em Valência, são devastadoras. De novo. Espantosas. Outra vez.

Infelizmente, o que espanta não é o racismo. Afinal, de nada deveria surpreender que uma nação racista, de histórico colonizador, cometa atos racistas. Especialmente quando isso acontece pela décima vez, contra o mesmo atleta.

A mim, o que causa espécie é o nível de conforto dos racistas em 2023. Mas aí me lembro que vivemos uma nova ascensão do fascismo, apoiada, quem diria, pelo presidente de La Liga.

O coro monstruoso contra um jovem de 21 anos deveria provocar a ira de todas e todos. É violentíssimo. Vini está lá trabalhando, mostrando sua arte, um dos melhores do mundo naquilo que faz, enquanto ouve milhares de ofensas.

Ele se irrita, toma uma gravata de um adversário, revida e o que acontece? É expulso. Como se não bastasse, é questionado pela mídia local: não precisaria pedir desculpas pelo cartão e pela provocação ao Valencia (ele fez o número 2 com a mão, sugerindo que iriam à segunda divisão)? Afinal, ele também errou. Provavelmente, mereceu.

Mereceu uma dezena de vezes, em seis cidades diferentes.

É vil. Não apenas contra o atacante, que desde os 17 anos vive em terra estrangeira, lidando com tudo de bom e ruim que o estrelato traz.

É um ataque a todas as pessoas negras. Todas. É uma mensagem: não importa o quanto você brilhe, o quanto ganhe de dinheiro, o quanto seja admirado por suas habilidades, o quanto consiga, apesar de tudo, realizar seus sonhos. Não importa. Você segue sendo negro, acima de tudo, e, com isso, ocupando um lugar abaixo de tudo. Abaixo de nós.

Enquanto o racista vai vivendo tranquilo, safando-se com uma ou outra advertência besta. Sabe o que aconteceu diante das mais de dez denúncias apresentadas por Vini Jr. na Espanha? Certeza que você sabe. Nada. Nenhuma partida paralisada. Nenhum estádio fechado.

Aí penso: como eu ainda me surpreendo com essas coisas? Já deveria estar escolada.

Mas não estou. Porque sou branca. E, como branca, posso passar um dia sem pensar em racismo. Não preciso ensinar meu filho — como faz uma amiga minha negra com o dela — que ele não deve nunca abrir um pacote de qualquer coisa dentro do mercado.

Não me preocupo quando meu filho sai correndo de uma loja de chinelos, todo sujo, calçando um par que ainda não paguei. Porque o segurança do shopping ri daquele garotinho de cachinhos dourados fazendo estripulias. Uma criança de 3 anos com mais liberdade do que mais da metade da população desse país.

Entrei há pouco no avião, sem qualquer receio de ser revistada ou retirada do voo por conta da minha bagagem.

Os atos repetidos e descarados contra Vini Jr. não são sobre mim, por óbvio. São, porém, sobre toda a branquitude.

A branquitude quer soluções confortáveis para o racismo. "Punição aos culpados!" "Isso não pode mais acontecer!" Beleza. Vamos cancelar a final da Champions então? Paralisar uma rodada do Brasileirão ou da Libertadores? Onde estão os patrocinadores dispostos a perder dinheiro pela causa, em vez de apenas bancar campanhas e anúncios?

O Real Madrid fez hoje uma queixa formal ao Ministério Público espanhol, pero não saiu de campo ontem. Os jogadores que correram até Vini Jr. no momento do confronto com a torcida local eram todos negros. Ancelotti deu uma excelente entrevista a uma péssima repórter. Só agora, depois de mais de um ano e meio de insultos racistas. Insistiu para o brasileiro não sair do jogo a fim de que o racismo não vencesse.

O que o branco Ancelotti talvez não saiba é o que disse meu colega Marcos Luca Valentim: o racismo sempre vence.

E seguirá vencendo enquanto seguirmos aqui, na tranquilidade da nossa branquitude, sacrificando nada e repudiando do sofá os atos criminosos contra quem pode perder tudo, inclusive a vida, pela cor de sua pele.

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