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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que o descontrole de Gustavo Gómez revela sobre o método Abel Ferreira

Abel Ferreira reclama com arbitragem durante Palmeiras x Coritiba, jogo do Campeonato Brasileiro - JEFFERSON AGUIAR/PERA PHOTO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Abel Ferreira reclama com arbitragem durante Palmeiras x Coritiba, jogo do Campeonato Brasileiro Imagem: JEFFERSON AGUIAR/PERA PHOTO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
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05/06/2023 10h55

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A vitória do Palmeiras sobre o Coritiba era esperada. Nada mais que a obrigação. O time que ainda não perdeu no campeonato jogando em casa contra o que ainda não ganhou. Um não vence desde o final de fevereiro. O outro tem três derrotas no ano.

Não houve qualquer resistência no tempo regulamentar: um sossegado 3 a 1. Já nos acréscimos: caos. Seis cartões amarelos distribuídos irmãmente depois dos 45 do segundo tempo, em lances diferentes. Felipe Fernandes de Lima rapidamente perdeu o controle da partida.

Quem também perdeu o controle foi Gustavo Gómez. Ver o capitão alviverde ir para cima do árbitro, indignado, revoltado, desgovernado pareceu estranho. Não que o paraguaio seja um cara encabulado — nem poderia ser o capitão dessa forma. Mas estava over.

O xerife surtou? Está pendurado! Vai tomar amarelo! Acontece que ele já tinha sido amarelado, por uma reclamação absolutamente normal, após um outro amarelo, também injusto, para Luan. Dali, a coisa descambou.

Nada mais comum no Brasil do que atleta reclamando acintosamente com o juiz. Tanto que a CBF estabeleceu uma política de "tolerância zero", não necessariamente aplicada com isonomia, para tentar coibir os protestos.

No Palmeiras, entretanto, isso é raro. No ranking dos cartões do Brasileirão, a equipe ocupa a 13ª colocação. É apenas uma de cinco que ainda não receberam cartão vermelho.

Sabem quem absorve os cartões, especialmente os por reclamação? Abel Ferreira.

Parece loucura, mas também tem método. Claro que o português precisa lidar com seu temperamento e evitar explosões. Mas nem tudo é cólera.

Abel absorve para si a tarefa de reclamar da arbitragem. Claro que nem sempre tem razão. E nem sempre está errado. Há poucas unanimidades no futebol brasileiro: a falta de qualidade da arbitragem é uma delas.

Há outra evidência do método: as coletivas. Abel não recua totalmente. Pode haver um traço de arrogância? Pode. Sua intensidade, porém, é algo em que ele insiste e defende — porque funciona.

A evidência cabal, para mim, é sua relação com o elenco (considerado de longe o mais coeso do país por vários repórteres experientes). Se Abel fosse só um cara explosivo, ele explodiria com todo mundo. Só que não. Ele nunca perde a linha com os seus comandados. Nunca gritou na cara ou xingou um atleta seu. Nunca lavou roupa suja em público.

Dizer que ele intimida juiz é esquecer quem detém o poder (cartões e súmula): a arbitragem. Tenho certeza que treinadores, jogadores, cartolas e torcedores expulsariam árbitros se pudessem. Acontece que não podem.

A relação de poder é desequilibrada por natureza.

Abel talvez não seja.

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