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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Prestígio devido: Bia Haddad é a maior do tênis brasileiro, não só feminino

07/06/2023 14h13

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Ao ver Bia Haddad Maia avançar às semifinais de Roland Garros, vencendo hoje a número 7 do mundo, só consegui pensar em representatividade e em prestígio.

A única referência de alto nível disponível para Bia era Maria Esther Bueno. Uma das grandes tenistas do mundo, ícone do esporte brasileiro, imortal. Uma referência de muitas décadas passadas.

Bueno chegou à sua última semi de Grand Slam em 1968, justamente o primeiro ano da Era Aberta, quando os grandes torneios passaram a permitir a entrada de atletas profissionais. E, também, 28 anos antes de Bia nascer.

Uma das frases que mais amo sobre o esporte é: Naomi Osaka não é concorrente de Serena Williams. Ela é o seu legado.

O que Bia conquistou hoje não é emblemático apenas para o tênis feminino, para a fundação de um novo legado, formado por garotas que não tiveram em quem inspirar-se.

O que Bia conquistou hoje não é emblemático apenas para o esporte feminino. Uma garota que precisou treinar cercada de meninos, longe da família desde os 14 anos, rodando o mundo sozinha por meses a fio, com o treinador e uma mochila nas costas. O privilégio de penar como sul-americana em um esporte de países ricos. Privilégio que raras meninas encontram nesse continente.

O que ela conquistou hoje é emblemático para o nosso reconhecimento. É um lembrete para pararmos de excluir as mulheres do seleto panteão dos grandes, negando-nos não só dinheiro e segurança, como também prestígio.

Marta é a maior da Seleção Feminina. Neymar, o maior da Seleção. Ponto. Como se os feitos dele chegassem aos pés dos dela.

Quando alguém menciona a maior pessoa de algum esporte, quase sempre o abençoado é um homem. Djokovic, Nadal ou Federer: quem é o maior de todos os tempos? Porque Serena, afinal, só pode ser a maior entre as mulheres.

Nunca esquecerei do dia em que Andy Murray corrigiu um jornalista que o perguntara sobre Sam Querrey ser o primeiro atleta dos Estados Unidos desde 2009 a chegar a uma semifinal importante. Ao que o escocês respondeu: "atleta homem". O coleguinha havia casualmente desconsiderado nomes como Venus e Serena Williams.

Que fique claro: Bia Haddad Maia é a maior atleta do tênis brasileiro desde Gustavo Kuerten. Uma das maiores da história do tênis brasileiro. Não do tênis ou do esporte feminino. Do Brasil.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL