Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Fala racista de Luxemburgo é menos assunto que alfinetadas de Abel e Renato
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Na coletiva após o empate do Corinthians com o Cuiabá, Vanderlei Luxemburgo falava sobre a "descoberta" de atletas da base, no seu tempo de Palmeiras. Tentando se lembrar de Patrick de Paula, soltou: "Aquele canhotinho escurinho lá, como é que é o nome dele?"
O assunto repercutiu pouco. Eu mesma fui saber hoje, ao ler em um grupo de zap e depois buscar as imagens. Não vi manchetes, longas discussões nas mesas redondas, uma enxurrada de notas de repúdio. Não vi grandes resgates do seu histórico com o assunto, chamando o racismo no futebol de "nada mais do que bobagem".
Por que, então, a fala racista de Luxemburgo virou nota de rodapé?
Porque o empate em casa manteve o Corinthians perto do Z4? Porque Coudet pediu demissão do Galo? Porque o Vasco segue vice-lanterna do campeonato? Porque teve São Paulo e Palmeiras? Porque Abel Ferreira foi para cima de Calleri? Porque houve estrangulamento punido com amarelo? Porque o Botafogo segue líder e o Fluminense não venceu o Goiás? Porque o Grêmio finalizou 24 vezes e, mesmo assim, perdeu para o Flamengo por 3 a 0, com gol de Bruno Henrique? Porque Renato Gaúcho culpou a bola pela derrota? Porque o gramado do Maracanã estava tão bizarro que Gabigol fez piada com Beach Soccer no Twitter?
O final de semana foi recheado de notícias. Claro, todos são.
Nenhuma delas, porém, é mais importante do que um novo ato racista, dessa vez cometido por um treinador famoso de um dos maiores clubes do Brasil, em uma coletiva de imprensa, gravada, como se nada fosse.
E quase nada foi. Porque quase ninguém deu destaque. Assim como quase ninguém notou a fala de Dorival, depois da derrota para o Palmeiras, respondendo sobre a dificuldade no um contra um: "Não temos essa característica, era o Pedrinho, que acabou nos deixando." Ele acabou vos deixando porque responde a acusações de violência doméstica, ameaça, injúria e lesão corporal contra a ex-namorada. Apenas.
Adoro falar de futebol e não faltou futebol (bom e ruim) na 10ª rodada do Brasileirão. Mas toda vez que ignoramos um ato racista, incentivamos o próximo ato racista. Deixamos a mensagem de que racismo, misoginia e homofobia são tópicos menores. Secundários. Chatos.
O pasto do Maraca, a péssima qualidade da arbitragem brasileira, o comportamento de Abel Ferreira, a volta de Bruno Henrique, o abandono do terceiro maior elenco do Brasil por Eduardo Coudet, as alfinetadas de Renato Gaúcho em quem ouve passarinhos e o gol inacreditável perdido pelo Vasco estão rendendo conteúdo infinito na mídia. Custa abrir espaço, também, para o que verdadeiramente importa?
O que não recebe atenção não é coibido.
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