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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Racismo e Ancelotti: CBF se apequena e não topa o sacrifício à carne branca

Vini Jr, do Brasil, durante manifestação contra o racismo antes do amistoso contra Guiné - Albert Gea/Reuters
Vini Jr, do Brasil, durante manifestação contra o racismo antes do amistoso contra Guiné Imagem: Albert Gea/Reuters

19/06/2023 11h13

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O episódio racista cometido contra um brasileiro negro, na entrada do estádio espanhol onde aconteceria o amistoso da Seleção, tornou-se público quase meia hora antes do início da partida.

E teve jogo com racismo.

Por acaso, a vítima é amigo e assessor de Vini Jr. Se não fosse, teríamos ficado sabendo do segurança que empunhou uma banana para zombar de um torcedor negro? Haveria imagens da imprensa? Haveria um auê?

Se acontece sob os olhares do mundo, em um amistoso no qual o antirracismo é supostamente central, com câmeras por toda parte, imaginem no dia a dia, no conforto da anonimidade.

A CBF sabia — como sabia qualquer pessoa com acesso a informação e o mínimo de noção — que atos racistas eram riscos reais. Decidiu manter o jogo contra Guiné (outra seleção negra, aliás) em um país que há anos vem massacrando sua maior estrela. Um lugar onde bonecos são enforcados em pontes, onde gritar macaco está normalizado, onde mídia e dirigentes encontram sempre um paninho racista para passar, onde a vítima de racismo toma um mata-leão do adversário por 8 segundos e acaba expulsa.

Em protesto, a CBF mandou fazer lindas camisas pretas, trocadas no intervalo pela velha Amarelinha. Preparou inúmeras placas com mensagens antirracistas, disputando espaço com infinitas propagandas de casas de apostas. Encampou a conveniente frase do presidente da FIFA, Gianni Infantino: Com racismo não tem jogo.

Só que tem. Desde sempre. Porque não ter custa caro. Porque lutar contra o racismo exige sacrifícios à carne branca.

Ah, mas acordos comerciais são complexos, carregam custos enormes e envolvem diversas partes. O racismo não?

O fato é que daqui alguns dias, com o fim da data FIFA, muita gente (branca) já terá esquecido da banana, do desrespeito, da violência.

A torcida se voltará aos clubes. A CBF se voltará à novela Ancelotti.

Não deixa de ser tristemente simbólico que um líder brasileiro (negro) se coloque à mercê de um homem europeu (branco), apequenando no processo a enorme instituição que representa.

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