Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Como não desistir do futebol? Espero salvar meu filho dessa insanidade
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Como vocês fazem para não desistir no futebol? Sério mesmo, estou buscando com urgência uma resposta satisfatória a essa pergunta.
Ontem, foi a morte de Gabriela — mais uma morte entre tantas que me acostumei a associar ao futebol desde criança. Mortes relativizadas com argumentos cretinos, com a culpabilização das vítimas, com a torcida organizada como bicho-papão. Como se eliminá-las, do estádio, ou da vida, fosse a solução óbvia. Como se a violência nascesse no momento em que se veste uma camisa colorida com a marca pirateada do clube.
Semana passada foi a agressão a Luan, com a invasão de um espaço privado. Sacode relativizado pelo fato de que ele também é um folgado ganhando 800 mil por mês sem jogar, que não deveria nem sair de casa e que também não dá para ver o Corinthians nessa situação e o cara fazendo festinha.
Nas semanas e anos anteriores foram Daniel Alves, Robinho, Cuca e uma infinidade de agressores de mulheres, com seus crimes relativizados pela fama, pela presença de mulheres em baladas, por bebidas, por tudo que aparentemente dá aos homens o direito de tomar para si os nossos corpos.
Sem falar nos episódios misóginos, homofóbicos e racistas com os quais convivemos diariamente. "Aaaaain, mas não pode mais falar nada que lá vem vocês mimizentas encher o saco".
Olha, não sei o quanto mais vale a pena encher o saco de quem relativiza morte, estupro, agressões e ofensas. Quem anda de saco muito cheio sou eu.
Saco cheio de ligar a televisão e ver 500 minutos de discussão sobre o nada para 5 minutos de debate sobre o fato de que uma pessoa foi assistir a uma partida de futebol e morreu atingida por estilhaços no pescoço.
Ou o fato de que um estuprador condenado passa seus dias jogando futevôlei na praia com os brothers.
Ninguém quer falar de assunto chato, né? Bora esperar passar o assunto chato da vez discutindo aquele impedimento duvidoso ou o pênalti claro não marcado por uma arbitragem que só piora.
Talvez não haja tratamento para a patologia do futebol que me acomete desde os 9 anos. Talvez não faça mais sentido mudar de profissão. Mas talvez dê tempo de salvar meu filho dessa insanidade.
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