Propaganda com inteligência artificial expõe viés contra o futebol feminino
Rodou a internet hoje um excelente comercial da empresa francesa Orange.
Patrocinadora das seleções futebol do país, a gigante lançou mão da inteligência artificial para provar um importante ponto.
Há quem não acompanhe o futebol das mulheres por puro preconceito ou desconhecimento.
O filme começa com lances brilhantes de grandes ídolos nacionais, como Mbappé, Giroud e Griezman. Você pensa: craques. Velocidade. Técnica. Habilidade.
Classificação e jogos
Na sequência, desvendam a tecnologia aplicada para alterar as imagens originais, de jogadoras francesas. Mulheres. Os lances não eram deles, mas delas.
Ao final, o arremate: "Só os 'Bleus' nos proporcionam essas emoções. Porém, não são eles que vocês acabaram de ver. Na Orange, quando apoiamos os Bleus, apoiamos os Bleues [plural que inclui o feminino]". Ou seja, apoiar a França é apoiar a França também representada pelas mulheres.
Quase toda revelação chocante carrega um fundo óbvio, e nos choca justamente por ter estado por tanto tempo sob o nosso nariz.
Quem segue o futebol feminino de verdade sabe que a realidade, hoje, não é compatível com o estereótipo cimentado no imaginário coletivo masculino.
A propaganda trapaceia o cérebro da audiência para evidenciar o que sabemos: uma enorme parte do público não acompanha o futebol feminino pelo simples fato de ele ser praticado por mulheres — que, para eles, nunca serão boas os suficientes.
Não sei se mais franceses ou fãs de outras nacionalidades darão uma chance à sua Seleção na Copa que se inicia logo mais. Talvez nada sirva para convencê-los de que as minas jogam muita bola. Mas o truque do comercial deveria servir, ao menos, para trazer à consciência a sua ignorância.
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