Alicia Klein

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Pedro deve tratar o Flamengo bem como foi tratado: com cálculo e frieza

Um jogador tomou um murro na cara dentro do vestiário. De um membro da comissão técnica. Um murro na cara dentro do vestiário. Do preparador físico. Porque se recusou a aquecer. A história de Pedro e Pablo vem sendo contada tão exaustivamente desde sábado, que quase é possível perder a dimensão do fato.

Falo muito do meu incômodo com a realidade paralela do futebol. O vale-tudo, inclusive da violência, em nome da bola, do entretenimento, das paixões, dos milhões.

Pois bem, imagine só essa cena acontecendo no seu ambiente de trabalho. Alguém da chefia te pede uma coisa, você se recusa a fazer, o fulano se aproxima da sua mesa, te dá três tapinhas na cara e, na sequência, um soco na sua boca. Os colegas intervêm, o pior é evitado.

A empresa te acompanha até a delegacia, seu chefe faz uma postagem em que lamenta o episódio, preocupando-se com vocês dois, agredido e agressor. Nenhuma nota pública expressando solidariedade, acolhimento, reconhecendo claramente o seu lugar como vítima de um ato vil e indesculpável.

Você começa o dia no trabalho e termina fazendo corpo de delito no IML.

Entendo a posição complexa em que o Flamengo foi colocado. Tudo que disser pode e será usado contra si. A instituição lida com relações trabalhistas caras, que precisam receber tratamento cuidadoso e minucioso.

O mesmo cuidado e minúcia que eu gostaria de ver aplicados a uma investigação sobre o assédio moral que Pedro indica estar vivendo há semanas. Afinal, o que são "covardias psicológicas" senão exatamente isso: assédio? Isso está de fato acontecendo? É só com ele?

O comportamento explosivo dessa comissão técnica, aliás, não é novidade nem aqui nem na França. Foram vários os episódios "polêmicos" no Galo, no Santos, no Olympique. E não sobrou amor de quem já partiu do Rubro-negro, como Marinho e Vidal.

Dentro do seu direito, o Flamengo optou por tratar este caso exatamente como uma relação trabalhista. Nada mais, nada menos. Deu o suporte ao atleta no momento da denúncia ao mesmo tempo em que avalia multá-lo por indisciplina, providenciou o desligamento do agressor, entendeu se era possível manter o resto da comissão, incluindo o filho de Fernández.

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Pedro goza do mesmo direito. Direito de pedir rescisão contratual e até multa por ter sofrido agressão física — e quiçá psicológica — de um preposto do clube, superior hierárquico seu, sob as barbas do seu empregador.

Hoje, ele já não apareceu para treinar. Talvez esteja fazendo os seus frios cálculos e avaliando o melhor rumo a tomar. Um que envolva mais tempo dentro de campo e menos tempo na delegacia.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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