Eliminação do Brasil: criticar Pia é respeitar o futebol feminino
É importante poder criticar a Seleção feminina. É importante poder dizer que Pia não fez uma boa Copa. Que o Brasil jogou mal contra a Jamaica. Que o time esteve apático e nervoso. Que nem tática, nem técnica, nem emocional compareceram nessa manhã.
Nada disso tem qualquer relação com o investimento no futebol feminino. Não pode ter. O investimento é o mínimo que cabe a Confederações e clubes ricos, que há décadas oferecem estrutura de ponta aos homens.
Sugestões de que críticas ao campo e bola devem ser medidas porque afetarão esse investimento me preocupam. A liberdade para criticar é, inclusive, uma conquista proporcionada por essa evolução.
A revolta visível de muitas colegas com o desempenho decepcionante na partida que decidia a vida do Brasil na Copa só é possível por causa da visibilidade conquistada a duras penas — finalmente.
Classificação e jogos
Deixar de criticar é dizer que a Seleção feminina não conta, e ela conta muito. E, como todo time grande, tem dia que não joga nada. Hoje foi esse dia.
Vendo sua equipe afobada, tensa, incapaz de concluir até o penúltimo passe — que dirá o último —, Pia permaneceu no banco. Fez uma troca no intervalo e só tentou qualquer tipo de alteração maior aos 35 do segundo tempo. Como dizem os gringos, too little too late: muito pouco e muito tarde.
A treinadora assistiu à péssima apresentação como nós: sentada. Diferentemente de nós, porém, ela tinha poder para, ao menos, tentar mudar o curso da história. Absteve-se. E, por isso, merece ser criticada.
Merece porque tem nosso respeito. Porque comanda uma das maiores seleções do mundo. Porque perdeu seu lugar na Copa para a 43a colocada do ranking. Porque entregou uma campanha pior do que o esperado.
Fico triste com a eliminação do Brasil e a maneira como a Seleção se apresentou hoje. Fico feliz em ter espaço para criticá-la e por viver em uma época na qual essa eliminação importa para muito mais gente.
Ninguém vai parar o futuro. Mas que o presente tá amargo, ah, isso tá.
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