Socos na cara: psicólogo do esporte fala de crise no Flamengo e no futebol
O texto abaixo é de João Ricardo Cozac, psicólogo do esporte e presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte e do Exercício Físico.
A falta da psicologia do esporte em diversos clubes pelo país se dá, quase sempre, por conta do preconceito e da desinformação.
O jogador Allan, do Flamengo, assim respondeu ao ser questionado se um trabalho psicológico ajudaria o time: "Meu irmão, não tem psicólogo que ajude jogador. É cada um olhar para si". Será mesmo, Allan?
E quando um preparador físico agride, com um soco na cara, um dos atletas da equipe? E quando Gerson e Varella trocam socos e o uruguaio tem suspeita de fratura do nariz? O máximo que o clube fez foi emitir uma nota atestando que o fato "faz parte de um treino disputado".
Classificação e jogos
Até onde chega a perversão e ignorância de uma instituição que não entende rigorosamente nada de comportamento humano e parece se orgulhar disso? Acompanhem as últimas falas de Marcos Braz. É fácil entender que o Flamengo não tem a menor ideia do que seja a psicologia do esporte.
Nos últimos 30 anos, atuando como psicólogo do esporte de atletas e equipes, pude constatar que, em muitos casos (sobretudo no futebol), a psicologia é vista como sinal de fragilidade, incapacidade e fraqueza. Venhamos e convenhamos: num universo em que a força física é sinal de coragem e adaptação, falar em psicologia é como sofrer um gol contra.
Pior: isso tudo é reforçado pelo senso comum das vozes das arquibancadas: "Jogador que ganha uma fortuna não tem o direito de querer psicólogo. Quem precisa de psicólogos somos nós, eternos sofredores dos estádios". É preciso parar com essa banalização já tão enraizada no nosso futebol.
A grande questão é que, antes de atletas, são seres humanos e o sofrimento, atesto, tem sido inevitável. A procura por trabalhos psicológicos fora dos clubes tem aumentado significativamente.
O que pouca gente entendeu é que a presença de psicólogos não garante a vitória. Psicólogo não é mágico nem curandeiro. Ele é, ou deveria ser, mais um integrante da comissão técnica.
Por outro lado, a ausência desse profissional tem vulnerabilizado os atletas às suas dores emocionais e, claro, à queda da performance individual e coletiva - além, claro, de deixá-los à deriva diante de suas reações emocionais.
Quando falta a ciência, sobra a porrada. É preciso ser forte para encarar a fraqueza. E a fraqueza, pelo visto, tem vencido de goleada!
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