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Universitários do pinto de fora e Federação Espanhola dão aula de misoginia

A escrotidão de alguns homens, mais uma vez, rouba a pauta e nos impede de falar sobre assuntos decentes.

O desfile coletivo de pênis dos estudantes de medicina da Unisa, durante uma partida de vôlei feminino de jogos universitários, explica muita coisa sobre o que é ser mulher no mundo — e sobre ser homem. Até o termo mais usado inicialmente, "masturbação coletiva", é notável: por que não importunação sexual, assédio, coação, ato obsceno?

No caso da Federação Espanhola, o presidente se "restringiu" a um beijo na boca forçado (ASSÉDIO!). Agora, depois da demissão inevitável, a entidade soltou a convocação da seleção feminina, ignorando o boicote das atletas. Elas responderam com o óbvio: o buraco é bem mais embaixo, não voltaremos. Mas os homens à frente da federação pensam "pronto, já nos livramos do cara, demitimos até o treinador que vocês denunciavam há anos, agora voltem aqui quietinhas e vamos fingir que não aconteceu nada".

Vamos fingir, também, que expulsar meia-dúzia de alunos (eram pelo menos 20 exibindo as genitálias no ginásio) resolve o problema do assédio constante às mulheres. Ignoremos os anos de uma cultura assustadora de violência na universidade.

Trago aqui apenas um trecho da matéria investigativa publicada pelos colegas de UOL, Gustavo Brito e Ana Paula Bimbati. "Tapas, socos e cuspe no rosto, humilhações públicas e em meios digitais. A lista de constrangimentos relatados pelos calouros no trote da faculdade de medicina da Unisa (Universidade Santo Amaro), em São Paulo, é extensa. Inclui faxinar a casa de veteranos, ajoelhar-se para ouvir xingamentos aos gritos, aceitar apelidos —inclusive de cunho racista—, seguir regras de vestimenta e de circulação, além de enviar ou receber fotos de genitais masculinos por redes sociais ou aplicativos de mensagens. É cobrado também que se demonstre conhecimento sobre o histórico de uma cultura de abusos que se arrasta há anos".

Ignoremos que isso leva, necessariamente, a uma cultura de abuso de médicos sobre pacientes. Ignoremos que se tratam de crimes de ódio. Ignoremos que homens em posições de poder tendem a se acha acima das regras, donos dos nossos corpos, reis do pinto que tudo pode. Ignoremos que mulheres morrem por causa disso.

Ignoremos e deixemos as coisas como estão. Porque está excelente, né. Para os escrotos, os assediadores, os criminosos.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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