A queda de Walewska e as dores silenciosas de que precisamos falar
Aviso de gatilho para suicídio
A chamada do UOL: "Walewska caiu do 17º andar de prédio, diz Boletim de Ocorrência" acabou comigo. Agora, já sabemos que a polícia suspeita de suicídio. No setembro amarelo.
Suicídios acabam comigo. Tenho alguns casos na família e tudo em que consigo pensar nessas horas é: o que ela sentia naquele exato momento? O que a levou ao limite? O que tornou sua existência insuportável?
Meu coração dá um nó. Um desejo de poder voltar no tempo e arrancar a dor da pessoa com a mão. Antes que ela tomasse aquele vinho. Antes que escrevesse aquele bilhete.
Óbvio que não sabemos o que Walewska sentia.
Sabemos, porém, que poucas horas antes de cair do 17o andar do seu prédio, ela palestrava para adolescentes do Colégio Santa Cruz, em São Paulo (o story da escola sobre o evento, com a ex-atleta sorridente na primeira fila, ainda está no ar).
Sabemos que ela lançava sua biografia e uma linha de chocolates fit.
Sabemos que, na segunda (25), ela tinha uma entrevista marcada com a minha colega Bia Cesarini, justamente para falar sobre o primeiro teste do produto, feito pela seleção feminina de vôlei.
A vida, como é tão comum, parecia correr normalmente. Para quem via de fora.
Não posso falar definitivamente em suicídio. Nem em qualquer tipo de causa. Mas precisamos — PRECISAMOS — falar sobre saúde mental. Devemos — DEVEMOS — desestigmatizar o que é um dos maiores males do nosso tempo. De todos os tempos.
É nossa obrigação abrir espaço para os sentimentos que nos assolam. Estudar os transtornos. Buscar informação. Aceitar os estudos e debater abertamente o que não é frescura, não é preguiça, não é fraqueza. É ciência. É realidade.
Depressão, bipolaridade, ansiedade, autismo, TDAH, tudo isso existe e carrega enormes consequências.
Você não diria para um diabético abrir mão da insulina ou para um hipertenso largar a medicação e controlar suas artérias na força de vontade. Mas muitas vezes dizemos algo parecido para alguém que não consegue controlar seus impulsos ou que anda sempre cabisbaixo (ou maníaco).
Por ora, meu cérebro não consegue processar racionalidades. Estou atravessada pelo coração, pela dor dilacerante de quem fica, pela ideia de que tudo parece bem e não está nada bem. Pelo conceito de que a vida pode, um dia, se tornar intolerável, minutos depois de você mandar um zap. Pelo fato de que perdemos mais uma mulher forte, campeã, inspiradora. Pela ideia de que Wal se foi, cedo demais.
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