Chances de título: três razões para desconfiar da matemática no futebol
Na 30ª rodada do Brasileirão, os estatísticos calculavam assim a probabilidade de conquista de título :
Botafogo - 80,2%
Red Bull Bragantino - 8,6%
Palmeiras - 5,7%
Flamengo - 2,6%
Grêmio - 1,7%
Depois da 34ª rodada, também conhecido como hoje, os números estão assim:
Palmeiras - 44,7%
Botafogo - 28,8%
Red Bull Bragantino - 16,1%
Grêmio - 6,4%
Flamengo - 3,7%
Antes do final de semana, o Palmeiras tinha 19,8%. Saltou para quase 45%.
Como pode mudar tanto em tão pouco tempo? Oitenta por cento não é quase certo?
Eis três motivos para desconfiar de cálculos ludopédicos.
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OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receber1- A matemática é fundamentada na lógica. Motivo pelos quais tantas pessoas de exatas a amam e tantas de humanas não a suportam. O futebol é o oposto da lógica. Ao contrário da vasta maioria dos esportes, é fundamentado na imprevisibilidade. O pior pode vencer o melhor — quiçá por goleada. E tomar uma lavada na rodada seguinte. O Brasileirão 2023 é exemplo de manual de como é inútil tentar prever resultados.
2- A matemática não sabe se um técnico vai ser demitido, se um árbitro expulsará um jogador sem motivo, se pênaltis serão marcados. Se a torcida invadirá o campo. Se faltará luz no estádio. Se Sobrenatural de Almeida dará o ar de sua graça. Ou o STJD. A matemática desconhece os elementos fora do controle de cada postulante ao título.
3- Sobretudo, a matemática não leva em conta o ethos de cada clube. A história. O aspecto emocional. A zica. As coisas que só acontecem com uns. Aquilo que meu amigo Sérgio Xavier brilhantemente chamou de "patrimônio mental" (referindo-se ao Palmeiras). A matemática desconhece o arcabouço psíquico de instituições e indivíduos. Aquilo que pode levar ao derretimento catastrófico ou à ascensão meteórica. A matemática nunca pisou numa arquibancada. Nunca viu seu time perder ou ganhar um título com um gol improvável de um jogador improvável, no último minuto.
A matemática é fria. O futebol é quente.
A matemática, meus amigos, nunca sofreu por amor.
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