Mais que consciência: orgulho
Texto de Natália Andrade, jornalista e redatora
"Não basta não ser racista, é necessário ser antirracista."
Essa frase é repetida diariamente sempre que a discussão sobre raça aparece, até que se esvazie o sentido, como se ser antirracista fosse algo simples ou fácil numa sociedade moldada para odiar pessoas negras.
Ser antirracista é ação diária, e não fala só sobre não cometer atos explicitos de racismo, até porque no Brasil, ser racista não é um problema, mas ser chamado de racista é. E essa ação a qual Angela Davis nos convida, passa por reconhecer a presença, a ausência e a grandiosidade de pessoas negras.
Ser antirracista é reconhecer Sueli Carneiro e Conceição Evaristo, a quem eu peço a benção, porque abriram o caminho para que eu - e tantas outras mulheres negras - pudessemos entrar numa universidade e em outros espaços de conhecimento e saber que ali é sim nosso lugar e que ali podemos ter voz e mais que isso, temos o direito de gritar pelos nossos.
É reconhecer o quanto Mano Brown, Ice Blue, KL Jay e Edi Rock fizeram e fazem por tantos homens e mulheres negros, que se reconhecem nas suas letras e conseguem ali, expressar o que talvez nunca lhes foi permitido. Com racionais, a gente aprende sobre ser e viver como pessoa negra e a ver tudo o que nos foi negado, ampliando as nossas conquistas.
É ver que se formos falar sobre ressocialização, antes de ouvir qualquer especialista em segurança pública, é preciso ouvir Dexter e entender que quem mais pode falar sobre o quanto o sistema é uma máquina de moer negros é quem já passou por ele.
É ouvir Jovelina e dona Ivone Lara e saber que consciência é ter orgulho da própria cor, abaixar a cabeça para os ancestrais e abrir os caminhos para quem vier. É ouvir Jorge Aragão e nunca esquecer que "quem cede a vez não quer vitória".
É assistir a Rafaelle, Denise, Karine, Rafaela, Eduarda, Jordana e saber que elas tiveram que ser dez vezes melhores que os melhores para estar onde estão. Ver PC, Marco Luca, Graffa, Luiz, Gil e tantos outros e saber que num sistema que nos quer mortos, a intelectualidade de cada um merece ser exaltada todos os dias.
É aplaudir o talento de Vini Jr, a religiosidade de Paulinho, a resistência da Formiga, a representatividade da Cris sem nunca reconhecer que para estar ali, eles não precisam matar um leão por dia, mas vencer a selva inteira.
Posso aqui citar centenas, milhares de negros. Para falar de beleza, de música, de saúde, de orgulho, de saber. Esse texto é sobre consciência e , a consciência de que ser negro é poder. E se hoje eu posso ser, é graças a cada um dos citados aqui. A consciência negra se faz entre os nossos. Consumir referências negras também faz parte do ser antirracista.
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