Eu avisei: matemática é legal, mas é 'traída' por Messias, Bahia e até CR7
Duas semanas atrás escrevi sobre a imprecisão da matemática no futebol. O cálculo de probabilidades frio, que não consegue acessar um esporte que é quente, imprevisível e ilógico por natureza. Aquele que, cinco rodadas atrás, dava 80% de chance de título ao Botafogo, menos de 6% ao Palmeiras e 2,6% ao Flamengo.
Pois bem, a 35a rodada do Brasileirão provou este ponto de um jeito que pareceu sob encomenda. Hoje estamos assim: Palmeiras 55%, Flamengo 19% e Botafogo 18,5%.
Mas espere! Não é só isso. Vejamos no detalhe:
Corinthians 1 x Bahia 5: o terceiro pior visitante do campeonato amassou o time que só perdera uma partida em casa. Com apenas 14 gols fora de casa até então, o tricolor foi lá e meteu 5 no alvinegro, em plena Neoquímica Arena.
Classificação e jogos
Botafogo 1 x 1 Santos: a matemática considerou desprezível a probabilidade de o líder absoluto do Brasileiro não vencer um jogo sequer em oito. Aliás, desde o longíquo 27 de agosto, quando fez 3 a 0 no Bahia, a sequência do Bota é de embasbacar qualquer estatístico: sete derrotas (sem contar a da eliminação da Sul-Americana e incluindo duas por 4 a 3), cinco empates (dois com gols do adversário nos minutos finais) e apenas duas vitórias. O gol aos 45 do segundo tempo marcado neste domingo pelo Santos, time sobre o qual os cariocas ganharam seu último e questionado Brasileiro em 1995, foi marcado por um jogador chamado Messias. Um amigo santista definiu o momento como "reparação histórica".
Atlético-MG 3 x 0 Grêmio: se ninguém imaginava os gaúchos na briga até agora, quem calcularia o returno do Galo? Décimo colocado na primeira metade, saltou de 47% para 69% de aproveitamento e lidera o segundo turno. De acordo com a UFMG, tem 3,3% de chance de ser campeão (era 1,1% na rodada passada).
Fortaleza 2 x 2 Palmeiras: esse foi para enlouquecer matemáticos em tempo real. O favorito leva um gol cedo (de um cara que não marcava desde setembro), aí perde um jogador expulso faltando mais de meia hora pro fim, consegue o empate, toma mais um três minutos depois e vai buscar um novo empate. Um a menos e três gols em 11 minutos. Cadê a lógica?
A lógica se deu mesmo na vitória do Flamengo por 3 a 0 contra o América. O que não tinha acontecido na primeira partida entre os dois, que terminou em 1 a 1 no Maracanã, graças ao gol de Victor Hugo aos 49 do segundo tempo.
A matemática ainda não leva em conta o estofo, o patrimônio mental, o arcabouço de títulos e desgraças de cada time. Não compreende ainda como cada clube reage na hora em que a porca torce o rabo. Quem pisca e quem não pisca. Não é clarividente o bastante para computar que a situação de Cristiano Ronaldo no Manchester United se deterioraria ao ponto de ele ir parar no Sauditão e acabar ligando para Luís Castro. Ou que o RBD ia tirar o Botafogo do tapetinho, abrindo espaço para Suárez e seus joelhos marcarem um hat-trick. Oi, efeito borboleta.
Ela não poderia aferir com precisão que, no final das contas, mesmo com um líder 13 pontos à frente do vice, o Brasileirão chegaria à reta final exatamente como se previa em abril: com Palmeiras, Flamengo e Atlético-MG fortíssimos na briga.
Calcula isso aí, planilha de Excel.
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