Eurico corrompeu o futebol ou o futebol corrompeu Eurico?
Ontem terminei de assistir à série documental do Globoplay sobre Eurico Miranda. Só posso definir como túnel do tempo feelings. Um breve teletransporte a uma época que me traz muitos sentimentos conflitantes. Saudade de quando as coisas pareciam mais simples e tínhamos menos informações. Nenhuma saudade de passar perrengue em estádios insalubres e tolerar ainda mais misoginia.
Um conflito que talvez possa ser resumido e personificado por Eurico.
Eu fui às duas finais do Brasileiro de 1997: dois 0 a 0 que garantiram o título ao Vasco. Eu vi, atônita, o Palmeiras, campeão da Libertadores de 1999, perder o lugar no Mundial de 2000 para o campeão da Libertadores de 1998. Eu estava no Parque Antarctica na final da Mercosul de 2000. Presenciei o hat-trick de Romário, testemunhando ao vivo aquela que o próprio Baixo chama de a melhor partida da sua carreira por um clube.
Eu vivenciei os anos de glória de Eurico como adolescente. Época em que não se sabia nome de dirigente. E vivenciei sua derrocada. Pelo lado de fora.
Não resisti à curiosidade de saber o que pensa um vascaíno. Alguém que, literalmente, conhece o Vasco por dentro, pós Eurico Miranda. Um amigo ponderado, de outra geração.
Segue a resposta dele à pergunta "O que o Eurico significa para você?":
Como alguém que viu pouco dos "tempos gloriosos" do Eurico, onde ele mandava e desmandava não só no Vasco, mas em outras esferas, como CBF, eu tenho uma visão quase que puramente negativa dele.
O que eu vi do Eurico: ele fazer acordos com "benfeitores" que de bem só o nome, com empréstimos questionáveis para contratar jogadores ainda mais questionáveis e que foram bem determinantes para criar o Vasco que eu conheci.
Eu cresci com o Vasco endividado por causa dele. Eu cresci vendo o Vasco dever a Zé do Táxi e derivados por causa dele. Eu vi anos e anos de jogadores horrorosos por causa da falta de estruturação do clube, pela qual ele foi responsável.
Da mesma forma, os poucos contatos que eu tive com ele me mostraram um lado que eu tento muito imitar hoje. Eu nunca vi o Eurico andar pelos corredores de São Januário sem falar com absolutamente todas as almas vivas no caminho. E falar não só bom dia, mas chamar pelo nome, desejar melhoras a algum parente que ele sabia que estava mal etc.
Também gosto muito da prática dele de não acreditar que os acordos são firmados apenas na caneta, e sim na palavra da pessoa. Essa linha de "se precisa escrever, é porque o acordo é fraco" eu levo muito no meu pessoal também.
Então, para consolidar, é um homem que, fora de funções importantes, com certeza merece muito respeito, mas em cadeiras de decisões importantes, ele é o grande responsável por eu ter visto um time médio a vida toda, não só no futebol, mas em toda a estruturação do clube (ainda mais tendo trabalhado lá e visto as merdas pessoalmente).
Lembrei de uma das frases que encerram o documentário. "Ninguém é totalmente bom ou ruim". E lembrei (momento cabeção) de Jean-Jacques Rousseau: "O homem nasce bom e a sociedade o corrompe".
O que vocês acham, amigas e amigos: Eurico corrompeu o futebol, o futebol corrompeu Eurico ou as duas coisas são verdade ao mesmo tempo?
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