Alicia Klein

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OpiniãoEsporte

Precisamos parar de nos iludir com o Mundial

Ah, lá vem a chata que não gosta de nada e quer desvalorizar nosso futebol.

De jeito nenhum. Eu gosto de muita coisa, inclusive do nosso futebol.

Mas acho que falta um pouco de realismo na maneira como encaramos nosso papel no cenário internacional.

No caso do Mundial de Clubes, especificamente, precisamos admitir duas coisas. E logo, porque daqui a pouco vem o modelo novo da Fifa e a gente primeiro vai precisar gastar tempo entendendo o que diabos está acontecendo.

Por ora, cabe-nos encarar a seguinte realidade: não é mais vexame cair na semifinal. Nossa ignorância não nos torna imunes à competência de africanos, asiáticos, árabes e norte-americanos. O domínio brasileiro na América do Sul quer dizer só isso: dominamos o nosso quintal. Fora daqui, não somos tudo isso.

O Fluminense poderia tranquilamente ter caído para o Al Ahly ontem, como o Flamengo caiu para o Al-Hilal, o Palmeiras para o Tigres, o River para o Al Min, o Nacional de Medellín para o Kashiwa Reysol, o Atlético-MG para o Raja Casablanca e o Inter para o Mazembe.

Acontece e vai continuar acontecendo.

O outro fato que me parece cada vez menos inquestionável: os europeus vão porque são obrigados. Não adianta ter brasileiro no time, sul-americano que gostaria de ganhar um título importante no lugar de onde veio, o que seja. Como um todo, não se importam. Preferiam ficar em casa.

A "empolgação" de Pep Guardiola em suas entrevistas é palpável. Uma aula em linguagem corporal e interpretação do que é dito para além das palavras.

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Na dúvida, conversei com um amigo torcedor do City. Raiz mesmo, natural de Manchester, com mais de 60 anos. Perguntei como estava o clima por lá.

"Ninguém tá nem aí. O Pepe não parece nem soa como se quisesse estar lá, né. Os torcedores estão putos (eu incluso) por perdermos nosso tradicional jogo de Natal. Torneio Mickey Mouse!"

Morei muitos anos na Europa e nunca conheci uma pessoa que colocasse o Mundial em uma prateleira alta. Mais do que um título, é um estorvo.

E é fácil entender por quê. A medida de uma vitória leva em conta, entre outros fatores, o tamanho do adversário. Portanto, faz sentido que para todos os outros participantes, a chance de enfrentar o campeão europeu seja a oportunidade de uma vida. Eles são o auge.

Para eles, no entanto, é uma viagem chata, para um lugar nada a ver, no meio da temporada, a fim de disputar um troféu que a torcida não deseja contra adversários de que mal ouviram falar.

Vai continuar sendo imenso para nós, do segundo escalão. Uma conquista do tamanho dos rivais derrubados. Um Mundial! O que me incomoda é a cena, a fantasia, o esforço para distorcer a realidade, encontrar sinais da nossa suposta grandeza, de que também importamos para eles, de que eles sabem quem somos. De que estão dando o seu máximo por nós.

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Não estão. E tá tudo bem. Cada um com seu cada qual.

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Opinião

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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