Show de homofobia na TV prova que o futebol é mesmo terra de ninguém
Um importante programa esportivo, em uma importante emissora, comandado por uma importante figura da comunicação (e do futebol) deixou correr hoje um show de homofobia. Daquelas coisas que constrangeriam em um grupo de zap — e que eu pensava impensável na televisão. Porque sou ingênua.
Diante de convidados desconfortáveis, o apresentador insistia nas "piadas":
Fulano botou a bola com a mão, hein?
Fulano foi sem dó no fundo.
Você acha que fulano toma muita bola nas costas?
Você já tomou muita bola no queixo?
Mesmo quando o interlocutor não engajava, ele dobrava a aposta. Repetia as mesmas frases, como aquele tio desagradável no almoço de família.
Sem graça, um dos comentaristas tentava trazer a conversa para o campo de jogo, mais próximo da seriedade e mais longe da homofobia. Não adiantava. Um outro ria meio sem jeito, claramente fingindo achar graça.
Nada podia parar o comandante. Ele estava determinado a "tirar onda" com o Fulano. Como se sugerir a homossexualidade de uma pessoa fosse engraçado. Ou ofensivo. Como se importasse.
Tudo isso aconteceu ao vivo. Ninguém interveio.
Palestrei hoje para um grupo de jovens advogadas e advogados, sobre inclusão e diversidade. Por coincidência, um deles me perguntou sobre como interpelar os amigos preconceituosos e admoestar seus comentários babacas. Afinal é difícil ser o que tolhe, o "chato", o que então também deve gostar de tomar na costas. Hein, hein?
Se já era difícil antes, imagina com os amigos dele vendo comentários semelhantes comerem solto na TV aberta, sem qualquer embaraço?
Tenho certeza que a quinta série homofóbica adoraria essa deixa, mas preciso dizer: é de cair o queixo. E derrubar a fé na humanidade.
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