Carpini repete passos de Abel ao inventar menos e ganhar mais
Nossa, a semana nem começou e lá vem o exagero, hein?
Sim, porque se não for para extrapolar eu nem venho.
Mas fiquei mesmo imaginando ontem, antes do início da Supercopa, que Thiago Carpini lembra bastante o Abel Ferreira de novembro de 2020. O cara que chegou como uma aposta, sem retrospecto em clube grande, de currículo parco: um ex-jogador jovem, inteligente e promissor.
Ambos chegaram com um projeto já em andamento, sem tempo para treinar e de cara com desafios difíceis pela frente. Ambos precisaram se provar rápido.
Não estou, por óbvio, comparando o desafio de bater o River Plate em uma semifinal e conquistar a segunda Libertadores da história do clube com ganhar do Corinthians na Neo Química Arena e vencer a Supercopa do Brasil.
Guardadas as devidas proporções, esses eram os desafios que apresentavam-se. Os desafios que podiam — ou não — garantir a paz para o início do trabalho de cada um. E todos sabemos o quanto a paz é um recurso escasso por aqui, especialmente para treinador que chega sem grande moral.
Os dois também têm em comum um perfil sóbrio, mais "serião", pouco dados a futricas. Sim, Abel foi se soltando ao longo dos anos, sem nunca perder o jeito turrão.
Da maneira como vejo, ambos optaram por ajustes rápidos, aquilo que os gringos chamam de "quick wins", modificações de fácil aplicação que dão retorno imediato. Entendendo que não dá para inventar a roda com o carro em movimento. Ganhando confiança para, já com resultados no bolso, começar a imprimir a sua marca.
Acho Fernando Diniz um técnico excelente, criativo, corajoso e inovador. Acho também que ele não sabe adaptar sua visão às diferentes realidades. Tentou fazer na seleção algo para que claramente não havia tempo. Sinceramente, consigo imaginar poucos treinadores no nosso mercado realizando um trabalho pior que o dele nas Eliminatórias.
E isso não passa por falta de capacidade de Diniz, logicamente. O homem levou o Fluminense à sua primeira Libertadores! Passa, sim, por uma capacidade de adaptar-se, de entender as limitações de cada cenário.
Isso Abel fez como ninguém — e Carpini dá mostras de seguir uma cartilha parecida. Sem qualquer ilusão de que essa história de amor não possa ruir em algumas semanas, afinal o português do Verdão chegou a estar pressionado mesmo conquistando uma Libertadores e uma Copa do Brasil em quatro meses de casa.
Em um cenário no qual a paciência tem, mas acabou, os jovens técnicos de Palmeiras e São Paulo parecem saber explorar a insegurança do sistema com uma estratégia inteligente: inventar menos e ganhar mais.
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