Queda de técnico do Santos mostra poder das mulheres e do 'escândalo'
Kleiton Lima caiu.
Acusado de assédio por 19 jogadoras, ele foi recontratado pelo Santos para comandar justamente essas mulheres. O clube alegou que as denúncias eram frágeis. Ou seja, que a palavra das mulheres é frágil. Que, mesmo multiplicada por 19, ela carrega menor peso que a do homem. Ou, pior, que o clube no fundo não se importa em ter um assediador como técnico do futebol feminino.
Assim como não se importou em contratar Robinho, em 2020, já condenado em primeira instância na Itália, por estupro coletivo. Nem em recebê-lo em um churrasco no CT Rei Pelé, em 2024, semanas antes de ele ser preso.
O Santos também não desistiu de Kleiton Lima. O Santos bancou o assediador mesmo diante de uma chuva de protestos. Foi necessário que o próprio treinador pedisse para sair, a fim de "se preservar".
E quem preserva as mulheres? Quem preserva as vítimas? Quem preserva o ambiente para evitar a expansão do trauma? Quem nos protege? Pois este episódio deixou claro, novamente, o que Emicida transformou em poesia: tudo que nóis tem é nóis.
O clube ignorou 19 cartas. Não procurou as atletas. Não conduziu uma investigação séria. Passou por cima do assédio e das possíveis vítimas. Tampou o ouvido para duas dezenas e acabou confrontado com milhares de vozes, lideradas por mulheres que há muito perderam a paciência com o sistema.
Jogadoras, inclusive de outros clubes, que disseram chega. Se vocês não fazem nada, nós faremos o que está ao nosso alcance. E nosso poder, hoje, é suficiente para incomodar. Não para impedir, ainda, mas para desacelerar. Para tornar inconveniente e insustentável a presença dos piores.
Como diz a brilhante Joanna Maranhão, "os movimentos coletivos em momentos estratégicos têm um poder de que vocês não fazem ideia. Essa é a hora de criar estratégias efetivas para gerar mudanças sistêmicas, amplificando a voz das mulheres que denunciam, usando-as como norte das nossas ações. Porque não há nada de que as instituições esportivas tenham mais medo do que escândalo."
Ao que tudo indica, quem insistir em errar vai passar vergonha. Enquanto as mulheres não encontrarem paz para trabalhar, os assediadores não encontrarão paz para assediar.
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