Contra a Lei da Igualdade Salarial, CBF escancara desprezo pelas mulheres
A CBF conseguiu na Justiça, junto com outras dez empresas, autorização para descumprir a Lei de Igualdade Salarial. Aprovada no ano passado pelo Congresso, a Lei 14.611 visa obrigar empresas com mais de cem funcionários a aplicar medidas para garantir remuneração igualitária entre homens e mulheres exercendo a mesma função, com a publicação de relatórios de transparência.
A juíza que proferiu a decisão nas onze liminares, Pollyanna Kelly Alves, alegou que "a empresa ficará obrigatoriamente exposta ao escrutínio público, se aplicadas as normas impugnadas, que são manifestamente exorbitantes do poder legislativo estatal, violadoras da cláusula constitucional do devido processo legal".
Coitadas das empresas, né? Expostas ao escrutínio público nas suas práticas desiguais.
O que mais me chamou a atenção, no entanto, nem foi a decisão. Nem mesmo o fato de vir de uma mulher na magistratura. Afinal, o Brasil nos derrota todos os dias, de todos os lados.
O "cê só pode estar brincando" foi um oferecimento da declaração da entidade máxima do futebol.
"Para a CBF, essa é uma questão unicamente trabalhista e não reflete o entendimento, o esforço e o aperfeiçoamento da entidade para garantir a igualdade de gênero, a isonomia salarial e o reconhecimento aos profissionais que atuam incansavelmente pelo fortalecimento do futebol brasileiro".
Ahã. Uma entidade com um histórico brilhante na relação com as mulheres, não é mesmo.
Presidente afastado por assédio, inúmeras denúncias de funcionárias (desde coação até apalpadas nos elevadores), apenas uma diretora na história — que hoje processa a empresa, acusando a CBF de criar um ambiente "doentio", "desconfortável e hostil" para mulheres. Um ambiente onde o machismo é institucionalizado.
A desfaçatez de não só entrar com a liminar, como dizer que trabalha pela igualdade de gênero e a isonomia diante de seu histórico execrável, não surpreende. Mas abala. Porque escancara a liberdade que homens no poder ainda encontram para agir como se nada tivesse mudado. Ou devesse mudar.
Nem sequer respeitam a Lei. Afinal, não precisam.
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