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Time americano com estádio próprio mostra caminho para o futebol feminino

Ontem, depois da derrota por 3 a 0 para o Palmeiras pelo Paulistão, a goleira Sandy Monteiro, do Pinda, deu um depoimento emocionante sobre o futebol feminino no Brasil. Sobre o que é sustentar sua profissão por amor, sem apoio e, muitas vezes, com chacota. Ela chorava também de alegria, por estar ao lado de atletas da seleção brasileira.

O país que vai sediar a próxima Copa do Mundo das mulheres ainda oferece muito pouco a elas.

Recentemente entrevistei Raven Jemison, presidente do Kansas City Current, time da National Women's Soccer League. O clube é dono do primeiro estádio do mundo construído especificamente para o futebol feminino. Inaugurado em março deste ano, o CPKC Stadium tem capacidade para 11,5 mil pessoas e tudo que você espera de uma arena americana. Ótimas instalações, comida e bebida excelentes, produtos exclusivos, camarotes, experiências inovadoras para os fãs e vestiários modernos. Além, é claro, de naming rights vendidos desde a sua construção.

"Deixamos de lutar pelo direito de jogar nos estádios dos outros. Agora, nós escolhemos, nós decidimos, não somos mais coadjuvantes", contou Raven à coluna.

A equipe tem no elenco três atletas brasileiras. Perguntei à presidente se isso fazia parte de uma estratégia de internacionalização da marca, com a ideia de atrair torcedoras e torcedores brasileiros. Ela sorriu: "É claro que sim! Pensamos sempre em uma abordagem 360, queremos ser conhecidos no mundo todo e jogadoras como Debinha, Bia Zaneratto e Lauren podem nos ajudar com isso. Aliás, qual o nome do seu filho? Vou mandar uma camisa para ele!"

A estratégia de recrutamento passa até pela qualidade dos vestiários. "Queremos que todas se sintam como atletas de ponta, merecedoras do que há de melhor, inclusive as do time visitante", revelou Raven.

Além dos conhecidos investidores Angie e Chris Long, o clube pertence também à Brittany Mahomes e seu marido, o multicampeão Patrick Mahomes, quarterback do vizinho Kansas City Chiefs. Essa, aliás, é uma tendência cada vez mais presente na NWSL: celebridades e ex-atletas colocando dinheiro no esporte. Desde 2020, já entraram no jogo nomes como Natalie Portman, Jessica Chastain, America Ferrera, Billie Jean King, Mia Hamm e Abby Wambach.

Há um dizer em inglês que reflete muito a visão deste movimento. "Construa e eles virão", disse Raven. "As pessoas querem estar aqui. Meninas, meninos, mulheres, homens, famílias, inclusive mais gente acima dos 60 anos do que esperávamos. Na inauguração, vimos muita gente com os olhos marejados. As empresas querem se envolver com projetos assim, com algo de que possam se orgulhar, o esporte na sua mais pura forma, atletas para quem é fácil torcer. É um investimento inteligente."

O Brasil está a anos-luz dos Estados Unidos quando o assunto é a chamada fan experience. Ir a um jogo aqui ou lá é algo completamente diferente, mesmo na comparação com nossas melhores arenas (de futebol masculino). Mas o caminho para uma liga feminina profissional sustentável está se fortalecendo no hemisfério norte, por meio de investimento com visão de longo prazo, promoção de gente de famosa e trabalho.

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Raven Jemison foi recrutada para liderar esse trabalho justamente por sua experiência em ligas de sucesso. A executiva já ocupou cargos de liderança em franquias da NFL, MLB, NHL e NBA, onde era vice-presidente de operações de negócio do Milwaukee Bucks. "Esse é o maior desafio da minha carreira. E o mais legal!"

Perguntei se ela achava possível replicar esse modelo em países como o Brasil. "Basta um investidor acreditar. Precisamos oferecer às mulheres os mesmos recursos, acesso, oportunidades justas, qualidade. O que estamos fazendo aqui é um mapa. Somos os primeiros, mas se formos os últimos é porque fizemos algo de errado."

A camisa do meu filho ainda não chegou, mas tenho certeza que vem aí um novo torcedor do Current. Especialmente quando ele souber que a Bia Zaneratto joga lá. E que no estádio vende milkshake.

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