Alicia Klein

Alicia Klein

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
OpiniãoEsporte

De carne a navalha: Vini Jr. vira algoz em guerra inglória contra racistas

A condenação a 8 meses de prisão de três torcedores racistas que atacaram Vini Jr. me trouxe imediatamente à cabeça a letra da música "Negro Drama", dos Racionais MC's.

Não foi sempre dito que preto não tem vez?
Então olha o castelo e não
Foi você quem fez, c*zão

Eu sou irmão do meus truta de batalha
Eu era a carne, agora sou a própria navalha
Tim-tim, um brinde pra mim
Sou exemplo de vitórias, trajetos e glórias

O dinheiro tira um homem da miséria
Mas não pode arrancar de dentro dele a favela
São poucos que entram em campo pra vencer
A alma guarda o que a mente tenta esquecer

Vini Jr. venceu. Venceu uma batalha de tantas, numa guerra em que talvez não haja vencedores. Afinal, de um lado estão criminosos. E, de outro, pessoas que já começaram injustiçadas, ofendidas, feridas, p*s da vida.

A condenação é uma vitória amarga, mas uma vitória. Vitória seria não haver racismo. Vitória seria Vini não precisar ouvir o que ouve, lidar com o que lida, ser obrigado a jogar futebol e tentar, de alguma forma, manter a fé nesse futebol que nunca o protegeu. E na humanidade.

Nessa luta inglória, veio aquilo que sempre chamo de vitória possível. A Liga em que ninguém botava fé, do país em que ninguém botava fé, fez a denúncia e os três desgraçados com a camisa do Valencia foram considerados culpados, de maneira inédita na Espanha, por delito contra a integridade moral, com agravante de discriminação por motivos racistas.

Sim, desgraçados. Bandidos. Nojentos. Criminosos. E, se tudo der certo, detentos.

É preciso aplaudir Vini Jr. por seguir de pé e de cabeça erguida, por não desistir e bater de frente com essa gente podre. É preciso lembrar, também, que ao jovem atacante restam poucas opções.

Continua após a publicidade

Do alto da minha insignificância e branquitude, posso sair da minha casa de manhã e murmurar: ah, hoje não quero pensar em racismo, é muita tragédia ao mesmo tempo. Vini não pode. Ou ele dá um jeito de não se abater ou ele desiste. E isso não é vencer. É sobreviver.

O racismo segue vivíssimo, na Europa, na América do Sul, na do Norte e em toda a parte. Ao menos, por ora, quem sabe, possamos acreditar que os racistas de estádio na Espanha vão dormir um pouco menos tranquilos e estimulados. Já é alguma coisa.

Vini Jr. publicou há pouco uma declaração em que diz não ser vítima de racismo, e sim algoz de racistas. Vini Jr. é foda. Vini Jr. é navalha.

Siga Alicia Klein no Instagram e no Twitter

Leia todas as colunas da Alicia aqui

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.