Só para assinantesAssine UOL
Opinião

O abismo que separa as seleções brasileira e francesa no futebol e na vida

No dia em que o 7 a 1 completa dez anos, realmente não há nada a celebrar.

Não apenas pelo desempenho do Brasil dentro de campo, que pouco evoluiu de lá para cá. Em resumo: duas eliminações nas quartas de final dos dois Mundiais seguintes, para países de média expressão, e uma Copa América vencida em cinco edições (uma delas perdida, em casa, para a Argentina).

Eliminados da Copa América deste ano e em sexto lugar nas Eliminatórias para 2026, o que nos resume é a mediocridade.

Antes ela fosse só técnica.

O envolvimento dos jogadores franceses nas eleições do seu país escancara aquele que talvez seja o nosso problema mais grave. O de caráter. De comprometimento. De consciência. De noção.

Diante do avanço de uma extrema-direita perigosa, alguns dos nomes mais importantes da França, incluindo o ídolo-mor Mbappé, manifestaram-se pública e vigorosamente contra o fascismo. Chamaram a população ao voto, clamando para que se juntassem à coalizão democrática e ajudassem a salvar o país de tudo que Marine Le Pen e sua turma representam.

Não basta não ser fascista. É preciso ser antifascista.

Tchouaméni chamou o resultado das eleições de "vitória do povo". Marcus Thuram parabenizou "todos aqueles que responderam ao perigo que paraiva sobre o nosso belo país". Koundé celebrou "a França não se ver governada pela ultradireita". Konaté e Dembélé se juntaram ao coro que não mediu palavras para ficar do lado certo da história.

Aqui, não tivemos nem o mínimo. Muitos apoiaram a extrema-direita, a maioria se calou e praticamente ninguém se colocou claramente a favor da democracia. Milionários que parecem ter esquecido de onde vieram e como vive quem não pôde ascender como eles. Que desperdiçam sua imensa influência ou a utilizam para promover o machismo, jogos de azar, cruzeiros e outras "causas nobres".

Continua após a publicidade

Não à toa, a Amarelinha virou símbolo do atraso, literalmente o uniforme do ataque às instituições democráticas.

O histórico de corrupção, misoginia e incompetência da CBF certamente não ajudou. Mais recentemente, mergulhou o comando da seleção masculina no caos, culminando em uma estatística bastante deprimente. Segundo levantamento do SofaScore, dentre as 40 seleções disputando Copa América e Eurocopa, o Brasil tem o 35o pior desempenho desde o Qatar.

Volto a dizer, antes fosse essa a medida do nosso buraco. As parcas vitórias, as atuações sonolentas, a falta de entrega, as desculpas esfarrapadas.

Sim, a nossa seleção não está entrosada. Mas, acima de tudo, ela não está nem aí. Nem aí para você. Nem aí para o Brasil.

Siga Alicia Klein no Instagram e no X (Twitter)

Leia todas as colunas da Alicia aqui

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes