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Rayssa Leal: como é fácil esquecer que atletas também são crianças

Rayssa Leal tem 16 anos. Dezesseis. Se você já teve essa idade ou filhos adolescentes ou simplesmente existe no mundo, sabe que ninguém com 16 anos é adulto. Nem pela lei. Nem por qualquer critério.

Mas para conseguir uma acompanhante na Vila Olímpica, em Paris, Rayssa penou. Queria uma credencial especial para sua mãe, como recebeu em Tóquio, quando tinha apenas 13 anos. Dessa vez, tomou um belo de um não. Com muita insistência, conseguiu que uma ex-diretora da Confederação Brasileira de Skate, atualmente credenciada pelo COB, fosse liberada para dividir quarto com ela.

Alguns trataram como um absurdo, um favorecimento, afinal ela já havia credenciado seu treinador pessoal (e irmão) e um fisioterapeuta particular.

Abrir exceções é difícil e o número de credenciais, limitado. O Comitê Olímpico precisa fazer malabarismos para acomodar centenas, senão milhares, de interesses.

Trata-se aqui, no entanto, de uma atleta multicampeã e menor de idade. Uma atleta que disputou seus primeiros Jogos Olímpicos — e conquistou sua primeira medalha — aos 13 anos. Treze. Uma garota que desde pequena frequenta os ambientes mais competitivos e que, para se sentir segura, pediu a companhia da mãe. Quem não entende o significado disso não entende humanos. Não entende o que é proteger crianças, especialmente meninas, de um universo bastante cruel.

Está aí o caso da ginástica americana, culminado na desistência de Simone Biles, em Tóquio, que não me deixa mentir.

Já lidei diretamente com credenciamento de atletas e sei o esforço hercúleo que os funcionários dos comitês fazem para desagradar o mínimo possível de pessoas. Também sei a importância que se dá à conquista de medalhas, ainda mais aos raríssimos brasileiros com chance de traçar um ouro. E sei o quanto o bem-estar dos atletas é — ou deveria ser — prioridade.

Sei também que a hipocrisia no esporte nos acompanha diretamente. Vemos sucesso, dinheiro, fama, medalhas, troféus, e rapidamente nos esquecemos de que ali estão crianças, adolescentes, pessoas muito jovens que, para ter tudo isso e nos entreter, abrem mão de viver uma vida normal. E que, às vezes, no meio do momento de maior pressão dessa vida insana, uma pressão que a maioria dos adultos jamais suportaria, sob os olhares e as cobranças de bilhões de espectadores, só queriam ter a mãe por perto.

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Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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