Do Louvre ao queer: abertura das Olimpíadas é ousada, diversa e parisiense
Costumo dizer que Paris é uma cidade bonita por causa da intervenção humana. O Rio, apesar dela.
Em uma cerimônia de abertura voltada para mostrar a cultura deste lugar tão icônico, um espetáculo feito para a televisão, sem o calor dos espectadores de estádio, Paris foi o que Paris é. Linda, rica, cinza, contagiante e meio blasé.
Da ópera ao heavy metal, da literatura a Louis Vuitton, de Lady Gaga de plumas a Maria Antonieta decapitada, de Notre Dame a ménage, de cancan a parkour, do rap ao erudito, do balé ao ballroom, da Monalisa aos Minions, do break ao barroco, do Fantasma da Ópera às Feministas Raivosas, do Louvre ao queer, do dance ao dane-se, Paris não pede desculpas. Nem por deixar milhares de atletas olímpicos por horas debaixo de chuva.
Foi a maior emoção que já senti em Olimpíadas? Não. Achei maravilhoso? Sim. Senti vibrar o coração com a entrada de cada delegação? Não. Achei inovador o conceito de chegarem de barco e impressionante a sincronização do processo? Sim. Ficou tudo bem conectado pela direção do evento, cada apresentação lindamente conectada à próxima? Não. Achei algumas delas ousadas, corajosas e necessárias? Sim.
Perdoem os estereótipos, mas esse é o tipo de emoção que espero de europeu. Um caldeirão milenar de cultura, rico, profundo, usurpador e sem o borogodó encontrado apenas abaixo da linha do Equador.
Não posso deixar de exaltar a bravura de meter uma baladona drag, LGBTQ, PCD, diversa, no auge do maior evento esportivo do planeta. Quebraram tudo, animaram o evento e deixaram a extrema-direita mordendo o cotovelo em casa.
A organização ainda esbanjou no revezamento final da tocha com nomes como Zidane, Nadal, Serena, Tony Parker, Carl Lewis, Nadia Comaneci, e, claro, o acendimento da incrível pira-balão por duas pratas da casa: a estrela do atletismo Marie-José Pérec e o grande judoca Teddy Riner. Tudo coroado pela emocionante performance da poderosa Celine Dion, coberta por milhares de pérolas, direto da Torre Eiffel. Ufa.
Como todo rolê aleatório e tantas obras francesas, a abertura dos Jogos Olímpicos de Paris foi brilhante, estranha, meio confusa e valeu muito a pena ter curtido por uma infinidade de horas.
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