O simbolismo contido no pódio de Rebeca
A ginástica artística sempre foi um esporte sobre beleza. Sobre técnica, atleticismo, uma força mental monstruosa, mas sempre sobre beleza. Sobre graça. É preciso sorrir. Estar de cabelos arrumados. Collants brilhantes. Maquiagens elaboradas. Imagem impecável.
E, no aparelho de maior prestígio, na prova que fecha a ginástica artística feminina nos Jogos Olímpicos, as três melhores atletas eram negras. Um pódio inteiramente negro pela primeira — mas certamente não a última — vez.
No individual geral, a prova que consagra a atleta mais completa, já não havia brancas no pódio. Hoje, todas eram negras. A excelência era negra.
Rebeca e Simone, antes ladeadas por Sunisa Lee, tiveram a companhia de Jordan Chiles, outra companheira que Biles ajudou a não desistir. No momento do ouro, as americanas se curvaram e reverenciaram Rebeca, em uma das imagens mais icônicas de Paris. Três mulheres se respeitando, se dando as mãos, se apreciando. O Brasil no topo. Os Estados Unidos, com a melhor do mundo, abaixo.
Trata-se de um acontecimento histórico e emblemático.
Repito: mulheres negras dominaram a ginástica artística. Dominaram uma modalidade que não é só sobre força ou velocidade ou habilidade ou concentração, mas também sobre estética, sobre brilho, sobre o que é bonito. E sobre confiança.
A maior de todos os tempos desse esporte, a GOAT, é negra. A segunda melhor da atualidade é negra. A maior atleta olímpica da história do Brasil, entre homens e mulheres, é negra. Nossas duas únicas medalhas de ouro até agora, nesta edição das Olimpíadas, estão no peito de mulheres negras.
Não devemos romantizar a trajetória de Rebeca Andrade. Ninguém deveria passar pelo que ela e sua família, especialmente sua mãe, passaram. Devemos, sim, repetir o gesto das suas adversárias: reverenciá-la com uma admiração tão profunda, que nos mova a querer ser mais como ela.
Enfim, ter Rebeca e Bia Souza e Simone Biles e tantas outras mulheres negras esplêndidas como referência.
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