Alicia Klein

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Mesmo que não saia, negócio da Arábia Saudita com Vini Jr. já deu certo

O reino árabe ofereceu 1 bilhão de euros por cinco anos de contrato de Vini Jr. com o Al-Ahli, entre salários e bônus. Ao que tudo indica, o atleta de 24 anos recusou a proposta, mas outra pode estar a caminho. O Real Madrid avisou que só aceitaria negociar sua joia pelo valor da multa: 1 bilhão de euros também.

Notem, esse montante não faz qualquer sentido financeiro. A não ser para o atacante, claro. Ele receberia 13 vezes mais do que no clube merengue: cerca de 100 milhões de reais por mês ou 3,3 milhões por dia. Tá bom pra você?

Nenhum atleta vale isso, rende isso, joga isso. E aí é que está a questão: o que a Arábia Saudita quer, de fato, comprar?

A resposta mais resumida seria soft power, credibilidade, respeito. Um país que desconhece direitos humanos, que esquarteja seus adversários, em que mulheres são tratadas como cidadãs de segunda classe, onde ser LBGT é crime, esse país não faz contas como uma democracia. Esse país está atrás de limpar a sua barra, de se tornar mais palatável no ocidente, de entrar para o clubinho dos ricos "aceitáveis".

Quanto vale se tornar querido? Simpático? Quanto vale ver garotos pelo mundo vestindo a camisa de um clube da sua nação? O que é um bilhão nesse cenário? O que é um bilhão para quem lucrou, somente com sua estatal de petróleo, 121,3 bilhões de dólares em 2023? Dinheiro de pinga.

Ter um nome como o de Vini à frente de sua campanha para sediar a Copa do Mundo valeria muito. Vini não é só um dos melhores do planeta. Ele é respeitado também fora de campo, pela sua incansável luta antirracista, pela sua coragem e altivez.

E aí vem o pulo do gato: mesmo que ele diga não, o negócio já deu retorno. Já estamos aqui falando deles de novo, do seu desejo de se tornar sede do Mundial, da liga local, do seu poderio financeiro.

Talvez Vini não tope sair do Real, mas talvez tope ser embaixador para 2034 — como Messi foi, aparentemente sem constrangimento. Ou talvez ele entenda que não tem qualquer sentido alguém com o seu posicionamento em pautas sociais virar garoto-propaganda de uma teocracia autoritária e violenta. Não sabemos. Mas cá estamos nós falando deles, de novo.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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