Alicia Klein

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OpiniãoEsporte

O gozo reprimido pelo VAR

O VAR chegou para ajudar. Vai melhorar o futebol. Minimizar erros. Impedir injustiças. Equilibrar a balança. Modernizar.

Essa era a expectativa. A realidade tem se mostrado bem diferente.

É claro que o VAR ajuda. Às vezes. Mas aos equívocos e à arbitrariedade, que continuam acontecendo, somou-se um novo fator pernicioso: a interdição do prazer. A repressão da alegria. A contenção do gozo.

A torcida ainda grita gol? Grita. Uns decibéis abaixo, com aquele frio na barriga. Vão anular? Teve falta no início da jogada? As linhas mostrarão impedimento por um nanômetro? Uma interferência? Uma segunda bola em campo? Um espirro? Uma regra desconhecida?

Tomemos o primeiro gol do Palmeiras de ontem, contra o São Paulo. O clube já vinha de duas partidas com lances importantes definidos pelo vídeo, então a tensão era palpável. O replay mostrava Flaco López em confortável posição legal. Nem eram necessárias linhas. Bastavam olhos. Os jogadores comemoraram. As arquibancadas também, ainda que timidamente. Vieram as linhas. Óbvio. Nada de confirmação oficial. Raphael Claus indicou que seu microfone precisava ser aberto. Foi. Ele não notou. Pediu de novo. Todo mundo já sabia, mas ele segurava a informação crucial. Segurava, prendia, retesava. Tomava para si a autorização do júbilo.

Então, veio o segundo gol alviverde e o VAR, novamente determinado a esmiuçar cada frame, enxergou interferência de Flaco no gol de Lázaro. Como bem lembrou minha colega e amiga Milly Lacombe, a cabine nos teria roubado, entre tantos outros, o gol de Branco na Copa do Mundo de 1994, por interferência da lombar de Romário.

Felizmente, a ferramenta não tem poderes retroativos. Mas o seu poder atual mudou, sim, a natureza do futebol. Sua função parece ser encontrar algo, qualquer coisa, interferir para arrancar do jogo o seu maior objetivo: o gol. Na dúvida, atentam contra o tento. Cortem a euforia deles!

Na sua morosidade e incompetência, o VAR brasileiro reprimiu o futebol. Trocou as injustiças pela angústia, relegando os apaixonados a uma explosão contida. Estragaram o barato do negócio, sem nem ao menos oferecer o consolo da isonomia. Por poder, vaidade, vingança, sei lá, a arbitragem tomou conta do auge do espetáculo e miou a parte mais bacana do rolê.

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Opinião

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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