O tamanho do estrago causado por Abel Ferreira
Sim, hoje é terça-feira e vou falar de novo sobre o episódio machista do treinador do Palmeiras, ocorrido no sábado. E não é por gostar do assunto, muitíssimo pelo contrário. É porque ele continua a deixar sequelas, em um infindável espirrar de consequências.
O que era para ser uma semana de tranquilidade, pós-goleada, pré-aniversário e de machismo apenas velado, virou esse inferno que está aí.
Segue um pequeno apanhado da mancha que Abel esfregou no Alviverde:
Abel insulta a jornalista Alinne Fanelli e, por consequência, todas as mulheres — inclusive aquelas a quem ele supostamente deve satisfação.
Classificação e jogos
Abel sapateia sobre uma das poucas frentes em que a sua chefe, Leila Pereira, havia comprado uma briga "feminista": a de maior presença e respeito pelas profissionais de imprensa. Consciente ou inconscientemente, ele a ataca e constrange.
Ninguém se manifesta na hora, provando que estamos sós nessa briga.
Abel pede desculpas a Alinne somente no privado.
Publicamente e em conjunto com o Palmeiras, Abel solta um comunicado mequetrefe, tratando o assunto como um mal-entendido.
Homens que nunca se levantaram diante de atitudes machistas, subitamente tornam-se porta-vozes e bradam por um posicionamento de Leila. Como ousa não se pronunciar? Logo ela!
Muitos desses homens resolvem ir para o embate com suas colegas, que, exaustas, tentam voltar o foco para quem causou o problema — e não para mais uma mulher.
Essas colegas são obrigadas a defender alguém que nunca foi exatamente uma líder feminista. Que nunca fez pela pauta um décimo do que estaria ao seu alcance — e ainda assim fez dez vezes mais do que qualquer homem na sua posição.
Cansadas de defender a presidente bilionária, ficam sabendo que não havia mulheres jornalistas na festa de 110 anos do Palmeiras, realizada no último dia 26. Nenhuma. Seis convidados. Seis homens.
E que Leila não só decidiu não se pronunciar como, pior, nunca ligou para Alinne, a repórter que Abel usou como veículo para canalizar suas frustrações.
Emicida canta que "tudo que nóis tem é nóis", mas às vezes parece que nem isso.
Mais do que uma fala pontual, evidência da misoginia que abala sem surpreender, as palavras de Abel tiveram muito poder. O poder de nos infernizar a vida e nos lembrar que vivemos em um ciclo perene de frustrações. Um universo supostamente em evolução, no qual há apenas uma grande certeza: vão sempre querer que a corda estoure do nosso lado. Resta-nos o consolo de que este nosso lado está cada dia mais forte, mais resistente — ainda que de saco cheio.
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