O feminicídio de uma maratonista olímpica e a nossa brutal realidade
A maratonista de Uganda Rebecca Cheptegei, de 33 anos, foi assassinada pelo namorado. Em meio a uma discussão, Dickson Ndiema Marangach derrubou um galão de gasolina sobre a atleta e ateou fogo. Hoje, quatro dias depois do ataque e de ter 80% do corpo queimado, ela sucumbiu aos ferimentos e morreu.
Mais uma assustadora história de feminicídio, mais um sombrio lembrete de que não estamos seguras nem dentro de casa. Aliás, por vezes, as pessoas próximas são as que mais oferecem perigo, conforme mostram os dados de abuso e estupro no mundo todo.
O esporte apenas serve para destacar o quanto nenhuma de nós está segura. Rebecca competiu em Paris. Está morta. Ana Paula Marques também foi a Paris, competir nos Jogos Paralímpicos. Ela ficou paraplégica aos 20 anos, depois de tomar dois tiros do companheiro de quem decidiu se separar. Flávia Maria Lima embarcou para as Olimpíadas, em julho, com medo de perder a guarda da filha. O pai costuma usar as viagens da velocista brasileira para sustentar um caso de abandono parental.
Mulheres são sobrecarregadas, atacadas, abandonadas, vilipendiadas, xingadas, exploradas, violentadas e, de alguma forma, seguem vivendo. Não buscam sistematicamente tirar a vida de quem, na melhor das hipóteses, não paga pensão e, na pior, as agride fisicamente. Mulheres seguem.
Homens ficam chateados e matam. Se sentem traídos e matam. Não aceitam a separação e matam. Diante de uma discussão, despejam líquido inflamável e ateiam fogo ao corpo da pessoa que supostamente amavam.
As violências são inúmeras, perversas e onipresentes. Nem as mais velozes ou resilientes de nós estão a salvo.
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