No assédio sexual, a melhor defesa é o ataque
A melhor defesa é o ataque. Quantas vezes já não ouvimos isso no futebol, no basquete, no esporte em geral. Quem está com a bola tem menos chance de ser vazado. Quem vai para cima acua o adversário.
Essa é também uma das estratégias mais aplicadas em casos de denúncias de violência contra a mulher e assédios em geral: descredibilizar as vítimas, dominar os microfones, bradar bem alto, arrebanhar aliados, fazer ameaças, movimentar o mundo até que o medo tome conta e ninguém mais tenha coragem de falar. Nem quem já falou, nem quem pensava em falar.
A retaliação pela denúncia deixa de ser uma preocupação teórica e se torna uma realidade assustadoramente palpável. O que vai acontecer comigo se eu contar a minha história? As coisas vão ficar piores do que já estão, depois dos traumas que sofri?
Trata-se de uma tática tão eficiente quanto cruel. De súbito, mesmo aqueles que historicamente estariam do lado de quem acusa começam a lançar questionamentos. Hmmm, mas por que isso só apareceu agora? Mas ele é um homem sério. Mas olha só o que ela estava vestindo. Maior cara de politicagem. Pô, o que ela fazia na área VIP da boate? Sei não, hein, a imprensa gosta de especular. Isso aí é um bando de invejosa.
Escolha a sua justificativa e ela estará lá para amenizar a responsabilidade de um homem e deixar uma mulher profundamente sozinha.
Não se iludam. E, mais importante, não lavem as mãos.
Já escrevi sobre isso aqui na coluna, especialmente quando tratei dos casos de Cuca, Robinho, Daniel Alves. A neutralidade acaba por considerar igualmente provável que mulheres estejam mentindo sobre assédio. Diversas mulheres, uma dezena, centenas. Como se as estatísticas de acusações falsas se comparassem à da nossa vil realidade, aquela em que duas de nós somos estupradas a cada minuto. Aquela em que um dia começa com uma maratonista olímpica queimada e morta pelo namorado, passa por um marido que drogava a esposa para ser estuprada por 50 homens e acaba em uma enxurrada de acusações no âmago do governo federal.
Não contribuam para que menos mulheres falem. Não nos acuem. Não nos joguem de volta às sombras. Não ataquem quem provavelmente já foi atacada. Não criem ambientes confortáveis para possíveis predadores.
Cada um sabe do que é seu, mas eu estarei sempre do lado das "supostas" vítimas. Melhor do que correr o risco de desamparar quem mais precisa ou apoiar quem nos violenta.
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