Alicia Klein

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Final única? Lições do futebol para o segundo turno das eleições

Não consegui escolher a melhor analogia entre o futebol e as eleições. Estou aqui dividida entre a mais óbvia, o segundo turno de um campeonato de pontos corridos, ou a da final única.

Uma das máximas dos pleitos dá conta de que "o segundo turno é outra eleição". Elementos imprevisíveis, como a transferência de votos dos candidatos que ficaram de fora e o impacto da nova divisão do tempo de TV, entram em campo e tornam difícil a tarefa de cravar os campeões. Por outro lado, elementos mais palpáveis, como a rejeição de um ou outro e o poder da máquina pública, acabam por oferecer um norte.

No futebol, levar o primeiro turno não é garantia de nada. O Botafogo de 2023 que o diga. Chegou à metade do Brasileirão com 13 pontos de vantagem sobre o Palmeiras. Situação irreversível. Lavada. Já ganhou. Fechou o ano em quinto, na "pré-Libertadores" e seis pontos atrás do Alviverde.

O São Paulo de 2020 também parecia ter o campeonato na mão. Terminou em quinto, cinco pontos atrás do campeão Flamengo, que só foi assumir a liderança na penúltima rodada e esteve a minutos de perder o título para o vice Internacional.

Fazendo o paralelo com as eleições, dá para dizer que o jogo não está definido nem para aqueles que chegam ao segundo turno com um resultado bem superior ao do adversário. Tomemos o exemplo de Sebastião Melo (MDB), em Porto Alegre. Ele bateu 49,72% dos votos ontem e apenas uma queda vertiginosa garantiria alguma chance à resiliente Maria do Rosário (PT), que avançou com 26,28%. Uma queda como a do Botafogo de 2023. Embora esteja mais com cara de Botafogo de 2024.

Mas é aí que entra a final única. Na Libertadores, na Champions League, mesmo na Copa do Mundo, não importa como seu time chegou até ali. Se goleando todo mundo, com 100% de aproveitamento e dando espetáculo. Ou se empatando de qualquer jeito na bacia das almas, se arrastando nos pênaltis e apresentando um futebol sofrível. Agora, o placar está zerado e os dois adversários entram em campo, teoricamente, com as mesmas chances de levantar a taça.

O que veio antes não conta nada e o campo é supostamente neutro.

Mas é mesmo? Se alcançar a final da Libertadores deste ano, o River Plate atuará em casa, no Monumental de Núñez, em Buenos Aires. E o que dizer dos atuais prefeitos, que vão ao segundo turno com o poder da máquina nas mãos? Qual o peso desta vantagem?

O futebol e a política estão cheios de histórias de azarões. De quem chegou onde nunca se imaginaria. De vencedores que desafiaram a lógica. Estão, porém, ainda mais repletos de casos esperados, coerentes, condizentes com uma realidade determinada pelo dinheiro e os poderosos de sempre.

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Dito isso, aos candidatos sobreviventes nas 52 cidades que terão segundos turnos restam 20 finais. Vinte dias de batalha e esperança.

A analogia pode não ter sentido algum. Mas pode, também, provar o que o gênio Eduardo Galeano sempre defendeu: "o futebol é o espelho do mundo".

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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