Deyverson, o último romântico do futebol
Deyverson atropelou o River Plate ontem. Não foi o Galo. Foi Deyvinho. Dois gols válidos, um anulado e uma assistência. Além de um inferno técnico e emocional imensurável imposto aos argentinos. Em uma semifinal de Libertadores.
Ameaçando bater uma falta rápido e alongando, gritando na cara de Bareiro e fingindo receber um golpe, chamando a torcida o tempo inteiro. Saiu ovacionado e foi recebido com reverências no banco de reservas.
Claro, o atacante conhece bem a competição. Fez, afinal, o gol do título do Palmeiras, em 2021, contra o Flamengo, na prorrogação. Se autoproclamou "pai" do Rubro-negro, tirando onda nas redes sociais sempre que possível, apontando a tatuagem da taça para Gabigol e tantos outros momentos difíceis de esquecer.
Assim como é difícil esquecer Deyverson simulando uma falta do juiz, que lhe dera um tapinha nas costas; ou pulando sobre a rodinha de palmeirenses celebrando um gol, errando a marca e caindo no chão; ou cada uma das entrevistas malucas que já deu no gramado.
Como aquela maravilhosa, ainda no Cuiabá, em que reclamou de a torcida gritar palavrões na frente de crianças, repetindo os palavrões (na televisão), e emendando uma sequência frenética de pensamentos aparentemente desconexos, mas apaixonados. Um momento quase singelo em que uma TDAH (eu) olhou para um provável TDAH e pensou: tamo junto, irmão, sei como é a cabeça funcionar assim.
Classificação e jogos
Esse perfil "doidinho" pode ter contribuído para que ele fosse levado menos a sério do que deveria. Há também o receio do fator bomba-relógio: o que ele vai fazer agora? Acabará expulso com alguma estripulia?
A maioria dos palmeirenses que conheço achou natural a saída de Deyverson, em 2022. Obrigada por tudo, seja feliz. Parecia uma carreira destinada a lampejos de brilhantismo, rumo ao ocaso em um time médio, longe das maiores competições.
Eis que Deyvinho ressurge no Atlético-MG, ao lado de Hulk, Paulinho, Scarpa, Arana e companhia. Sério? Será que ainda dá caldo?
Ontem, a maioria dos palmeirenses que conheço estava eufórica. Um desavisado poderia achar que torciam para o Galo. Algumas mensagens reais que recebi no WhatsApp:
Deyvinho Seleção!
Não, a Seleção não o merece!
Canonizem Deyvinho!
Pai da Libertadores.
O 9 que a gente queria e deixou escapar.
Com ele, teríamos mais duas Libertadores!
No Deyverson, no party.
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Quero receberHarry Kane? Deyverson com grife.
Quem não ama o Deyverson tem um carvão no lugar do coração.
O último romântico do futebol.
Ele faz a gente acreditar em Deus, porque é impossível um ser humano tão especial assim simplesmente existir por acaso.
Tudo bem, talvez você ache essas pessoas muito exageradas. Talvez você ache pouco o 3 a 0 que ele meteu no Gallardo. Talvez lhe pareça precipitação. Talvez você considere o Deyverson só um cara lelé, que às vezes faz uns gols importantes. Um fulano carismático ou talvez até prejudicial ao futebol. Tudo bem. Talvez o problema seja você e seu coração de carvão.
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