Desvalorizar o Palmeiras no Brasileirão é desrespeitar o Botafogo
Não, não vim aqui passar pano para a macambúzia derrota do Alviverde para o Fluminense, que acabou por salvar o Tricolor carioca da degola e garantir o título ao Botafogo, que nem precisou ganhar do São Paulo, no Nilton Santos.
Chego aqui para dar o meu pitaco sobre a reação generalizada que vai tomando forma ao final do Brasileirão 2024: o Botafogo ganhou porque foi melhor e o Palmeiras entregou a paçoca.
As duas afirmações me parecem se opor. Afinal, se o Glorioso foi tão melhor que todo mundo, tão justamente glorioso, é dele o mérito exclusivo pela conquista tão sonhada, 29 anos depois do último caneco nacional e apenas 8 dias depois da primeira taça continental.
O próprio Abel Ferreira começou a coletiva de hoje parabenizando o campeão, nas figuras de John Textor, do conterrâneo Artur Jorge e do capitão Marlon Freitas. Seguiu afirmando que o Alviverde foi hoje uma sombra de si, que estava triste com os jogadores e que todos mereciam mesmo os apupos da torcida. Reconheceu a melancolia com que a equipe terminou o primeiro ano sem um grande título sob o seu comando.
Classificação e jogos
Meu proverbial alienígena, que por vezes pousa na Terra para provar o quanto vivemos intensamente momentos fora de contexto, poderia achar que o Palmeiras acabou de passar por um de seus piores anos. Massa revoltada, diretoria criticada, treinador decepcionado com o elenco, maior deprê.
Sim, a partida contra o Fluminense se aproxima do que dá para chamar de vergonhoso no universo ludopédico. Meu ET dificilmente imaginaria que o time de dourado ainda tinha chance de título, que a vitória importava, que se apresentava ali um grupo vencedor e resiliente. Maior deprê.
Campeão paulista, eliminado cedo nas Copas pelos times que viriam a ganhá-las, mantendo vivo o sonho do tri até a última rodada, com o segundo melhor ataque e a segunda melhor defesa do país. O Palmeiras só não teve um ano melhor que o do Botafogo — que vive o maior ano da sua história — e do Flamengo. Maior deprê.
Talvez a contradição se fortaleça pelo final de ano melancólico de um e apoteótico do outro. Talvez seja aquele clima de fim de relacionamento, em que você mal lembra como pôde um dia gostar daquela pessoa. Ou aquela festa que começa boa e termina meio baixo astral. Será que foi bacana mesmo ou sempre essa porcaria?
Talvez tenha chegado a hora de o Palmeiras realmente se reformular, passar pela primeira grande reforma da era Abel Ferreira, assumindo que o prazo de validade expirou para uns e outros simplesmente não vingaram.
Bastante razoável.
Mas não foi por isso que o Botafogo se sagrou campeão brasileiro neste 8 de dezembro. Não foi por causa do Palmeiras. Foi por causa do Botafogo.
Não reconhecer isto é desrespeitoso com ambos, especialmente com o clube de General Severiano.
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