Alicia Klein

Alicia Klein

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
OpiniãoEsporte

O silêncio ensurdecedor de CBF e clubes diante do racismo na Conmebol

Como se não bastassem as sanções risíveis aplicadas no caso Luighi e o discurso vazio no sorteio oficial das principais competições da entidade, precisamos ver o presidente da Conmebol comparar os clubes brasileiros com a Chita, do Tarzan. A Libertadores é o herói fortão, nós somos o chimpanzé amigão.

Dizem que de onde nada se espera é que nada vem mesmo. Lamento admitir, porém, que eu esperava uma reação vigorosa do lado de cá. Esperava, no mínimo, as populares notas de repúdio, um posicionamento nas redes, um postzinho qualquer. Nada. Ou quase nada. Praticamente nenhum clube se pronunciou de maneira oficial e a maioria dos dirigentes que falou o fez depois de questionamentos da imprensa, respondendo coisas como "somos contra o racismo". Poxa, que bom. Só faltava dizer que era a favor.

O chefe da entidade que comanda o futebol do continente saliva racismo, e os representantes do país mais rico e mais vencedor da atualidade respondem como? Com silêncio.

Bom, então a entidade que os representa, a Confederação Brasileira de Futebol, vai se manifestar, certamente. Com seu primeiro presidente negro e com a luta antirracista como prioridade, não há dúvidas de que vai usar o seu peso a favor da causa. Só que não. Até agora, a CBF não se manifestou de maneira institucional sobre a fala de Alejandro Domínguez.

Claro, todos os citados aqui podem estar fazendo sua parte nos bastidores, articulando-se politicamente para realizar algum movimento, agindo de maneira estratégica. Pode até ser.

O que fazemos publicamente, no entanto, carrega enorme peso. Gritar aos quatro ventos que o racismo é inaceitável — crime, no caso do Brasil — ajuda a consolidar a mensagem de que o racismo é inaceitável. Calar-se diante dele, por outro lado, ajuda a consolidar a mensagem de que está tudo liberado.

Hoje mesmo, o ex-jogador paraguaio Carlos Báez postou um vídeo afirmando que o racismo não existe no futebol. Tudo besteira. "Alejandro Domínguez, por favor, eu te peço, mande um carta para o Palmeiras e diga que esse é um esporte de homem, de homem forte."

É para combater este tipo de estupidez que todos precisam se pronunciar, especialmente os mais poderosos, aqueles com a capacidade de infernizar a vida dos racistas, de fazê-los sentir — se não na carne — no bolso as consequências de suas atitudes.

Doce ilusão, ao que parece. Mesmo quando se trata de algo tão crucial quanto a nossa humanidade, segue valendo a velha máxima: money talks.

Continua após a publicidade

Siga Alicia Klein no Instagram

Leia todas as colunas da Alicia aqui

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

19 comentários

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.


Carlos Agostinho Almeida de Macedo Couto

O Vasco da Gama se manifestou...como não é queridinho da CBF, a articulista não cita.

Denunciar

Fernando Ricardo Lins Ventura

O Club de Regatas Vasco da Gama repudiou oficialmente a fala racista do presidente da Conmbol.

Denunciar

Nilson Barreto Socorro

A CBF deveria no mínimo exigir uma retratação pública sob pena de retirar os times brasileiros das competições patrocinadas pela Conmebol. Cadê coragem para isso? Queria ver fazer os torneios sem as "Chitas". Quem não se respeita, não merece respeito.

Denunciar