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Como Fla e Corinthians podem aumentar vantagem sobre outros no PPV até 2024
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Os valores projetados para o pay-per-view do Brasileirão 2022 revelaram uma diferença grande entre os ganhos de Flamengo e Corinthians na comparação com os demais clubes. A projeção atual é de que a dupla fique com mais da metade do valor total estimado para a distribuição por parte da Globo aos clubes que possuem contrato com o Premiere.
Essa distância ainda pode aumentar até 2024, último ano do atual acordo da emissora com os clubes. E não se trata apenas do fato de terem as duas maiores torcidas do país, ou serem os times que mais vendem pacotes do Premiere aos seus torcedores.
Se houver novas quedas de arrecadação geral no PPV nos próximos dois anos, Rubro-Negro e Timão vão continuar aumentando suas cotas enquanto os demais terão redução proporcional dos ganhos. A coluna explica neste texto em quatro tópicos por que isso acontece.
1 - Fla e Timão têm garantias mínimas com correção
Flamengo e Corinthians possuem contratos com valores mínimos garantidos nos repasses de pay-per-view desde 2019. Esses valores independem de percentual de vendas dos dois clubes e são corrigidos pela inflação, enquanto os demais times dependem do volume arrecadado nas vendas ano a ano para extrair sua participação percentual.
Na época dos acordos, a notícia era de que Flamengo e Corinthians recebiam a mesma quantia mínima do PPV, mas dados aos quais a coluna teve acesso mostram que o time carioca tinha vantagem, com garantia de R$ 120 milhões, enquanto o clube paulista partia de R$ 80 milhões.
Com a inflação, os valores foram atualizados, e o Flamengo tem projeção de mínimo garantido de R$ 160 milhões em 2022. O Corinthians pulou para R$ 110 mi, sempre de acordo com as planilhas consultadas pela reportagem. Outro time que possui essa garantia é o Grêmio, que está atualmente na Série B e possui o PPV como única receita de televisão nesta temporada. O valor não apareceu nas planilhas consultadas pela coluna.
2 - Arrecadação com o Premiere vem caindo desde 2019
O problema é que, segundo apurou a coluna, o Premiere teve queda na arrecadação desde 2019. Isso derrubou, por consequência, os valores recebidos pelos demais clubes sem mínimos garantidos. A pandemia e a crise econômica atrapalharam bastante, causando uma onda de cancelamentos nas assinaturas durante a paralisação do futebol em 2020. Naquele ano, o Brasileirão só começou em agosto, oito meses depois do fim da edição anterior.
A queda de clientes da TV por assinatura também afeta o PPV. Uma solução encontrada para isso foi expandir a venda direta aos clientes por meio do streaming. Hoje é possível assinar o Premiere sem ter TV paga, dentro do Globoplay e do Amazon Prime Video. As assinaturas são mais baratas do que os pacotes vendidos nas operadoras.
Mas o repasse aos clubes também é diferente nessa modalidade. Como mostrou no ano passado a coluna de Rodrigo Mattos, esse tipo de venda reverte 50% da receita líquida aos clubes, ou seja, já descontados os gastos com a operação. As assinaturas de TV rendem 38% da renda bruta, sem descontos.
3 - Outros times abriram mão de mínimo garantido
No plano geral, o acordo da Globo com os clubes previa a distribuição de pelo menos R$ 650 milhões por ano a partir de 2019, valor que seria reajustado para R$ 700 mi em 2020. Essa era uma garantia mínima oferecida para que todos fechassem com o PPV, com a emissora assumindo os riscos em caso de faturamento abaixo do esperado.
O problema é que, diferentemente de Flamengo e Corinthians (e do Grêmio, hoje na Série B), os clubes abriram mão dessa garantia em troca da aprovação por parte da emissora da antecipação de receitas para terem dinheiro imediato nos cofres.
Com isso, a Globo deixou de ter a obrigação de repassar as quantias combinadas, e o dinheiro que entrou nos cofres das equipes passou a depender da flutuação das assinaturas ano a ano. Esse movimento, como vimos, tem sido constantemente para baixo.
Mesmo se não tivessem antecipado essas receitas, os clubes ainda teriam que lidar com a necessidade de assinatura com os 20 clubes da Série A no PPV para validação do mínimo de R$ 650 milhões. O Athletico Paranaense chegou a negociar com a Globo, mas não vendeu seus direitos nesta mídia e criou seu serviço próprio, o Furacão Live, para transmitir os jogos como mandante a partir de 2020.
4 - Clubes agora dependem de aumento nas vendas
A coluna teve acesso a uma projeção baseada na queda média de arrecadação dos últimos três anos. Os números levam em conta uma distribuição prevista em cerca de R$ 300 milhões para 2024, praticamente R$ 100 mi a menos que o valor projetado na atual temporada.
Nesse cenário, como já acontece hoje, os clubes sem valor mínimo garantido de PPV veriam os repasses sendo reduzidos proporcionalmente. O São Paulo, por exemplo, que responde por 9% das assinaturas de PPV, tinha projeção de ganho anual na casa dos R$ 59 milhões em reportagem do colunista Rodrigo Mattos feita em 2019, ainda na expectativa de que o Premiere alcançasse os R$ 650 milhões.
Na projeção atual (R$ 400 mi), o Tricolor deverá ter direito a R$ 36 milhões em 2022. Se a arrecadação prosseguir em queda e chegar aos R$ 300 mi, o time terminará o contrato ganhando R$ 27 milhões no último ano, 53% a menos do que a expectativa de ganhos para o começo do contrato.
Já os times com mínimos garantidos não seriam afetados pela queda na arrecadação, e ainda teriam os valores aumentados por causa da inflação. Em 2024, o Flamengo poderia passar dos R$ 180 milhões, caso confirmadas as projeções atuais às quais a coluna teve acesso, feitas com base no boletim Focus do Banco Central de 26 de agosto para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) e IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado), enquanto o Corinthians se aproximaria de R$ 125 mi.
Na prática, a diferença do Flamengo para o São Paulo, que seria de R$ 61 milhões em um ano com a projeção de receitas de 2019, poderá subir para mais de R$ 150 mi na última temporada do contrato. Essa distância só poderia ser atenuada caso a arrecadação do Premiere aumentasse nos próximos dois anos. Isso requer um forte aumento nas vendas diretas, já que a TV paga continua perdendo clientes, ou uma recuperação hoje impensável desta mídia, que sofre com a explosão do streaming no país.
Para 2025 em diante, as negociações e os novos formatos de venda do PPV devem ficar a cargo dos grupos que debatem a criação de uma liga de clubes para organizar e comercializar o Brasileirão.
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