Ana Thais faz história com estreia em Copas masculinas. O futuro já começou

"O futuro já começou". A frase da música com a qual a Globo sempre encerra e começa suas temporadas cabe perfeitamente ao atual momento. Dias depois da estreia de Renata Silveira, a primeira mulher a narrar um jogo de Copa do Mundo na TV aberta brasileira, foi a vez de Ana Thais Matos estrear como comentarista em um jogo da seleção brasileira no evento, um feito inédito para uma profissional na versão masculina do evento.

O feito foi registrado na vitória do Brasil sobre a Sérvia, por 2 a 0, na estreia da seleção na Copa do Mundo de 2022, em jogo realizado nesta quinta-feira (24).

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Ana Thais sempre dividiu opiniões nas redes sociais, muitas vezes vítima de machismo e do preconceito típico que mulheres que "se atrevem" a trabalhar no futebol, um meio sempre dominado por homens, sofrem. Não digo que é machismo toda e qualquer crítica feita ao trabalho dela, outro argumento típico que se ouve nessas discussões. Mas a virulência com a qual parte da internet sempre a dirigiu à jornalista não é proporcional.

No jogo de hoje, Ana Thais teve uma participação até um pouco tímida. Galvão Bueno, como analisou a repórter Beatriz Cesarini, se comportou como o grande "patrão" da transmissão da Globo, distribuindo ordens e comandos aos companheiros de equipe. É a Copa de despedida do narrador na função, o que torna tudo muito especial. É natural que ele seja o grande centro das atenções.

A quantidade de comentaristas no jogo também acaba diminuindo o tempo para cada um falar no ar. Galvão tem muito mais entrosamento com o ex-jogador Júnior, com quem trabalha há anos na Globo. Roque Jr., que fechava o trio, é recém-chegado ao time contando inclusive a primeira passagem pela emissora há pouco tempo.

Antes de a bola rolar, Galvão brincou com Ana Thais ao perguntar se ela estava ansiosa pela estreia. Quando a comentarista respondeu que estava com "as pernas tremendo", o narrador arrematou: "Ah, então está no clima".

Durante o jogo, a impressão foi de que Júnior falou mais. Nas redes sociais, a crítica mais contundente direcionada à estreante da tarde era sobre uma fala sobre o goleiro sérvio "bater roupa". Ainda que os internautas venham a ter razão, um recorte do trabalho não me parece suficiente para ataques do tipo "com ela não dá", "como pode ela ter espaço?", entre outros comentários preguiçosos.

Façam-se críticas, e tão só críticas. Críticas são importantes para que melhorias sejam feitas em qualquer profissional, inclusive este colunista que vos escreve. Até porque se nós fôssemos lembrar e pesquisa, talvez ficássemos por dezenas de parágrafos listando comentários realmente bizarros que já foram feitos por homens na função em jogos da TV aberta nos últimos anos.

Depois da estreia, por tudo o que vimos, é preferível esperar mais jogos do Brasil na Copa para que Ana Thais tenha mais oportunidades de expor seu conhecimento e estudo nas transmissões da TV aberta. Como já faz no futebol do dia a dia, mas agora diante de audiências que a Globo raramente vê em dias normais.

Até porque, mesmo que alguns não queiram, cada vez mais mulheres vão atravessar as portas abertas por profissionais como Ana Thais e Renata Silveira. O futuro já começou.