O que o sucesso de Casimiro na Copa sinaliza para o futuro das transmissões

O sucesso das lives de Casimiro Miguel na Copa do Mundo de 2022 é inegável. O streamer conseguiu bater o recorde mundial de audiência simultânea no YouTube, com quase 5 milhões de dispositivos conectados, e agora também é dono da maior live de futebol no Brasil, com pouco mais de 5,1 milhões na soma da CazéTV no YT com o canal da Twitch. O feito ocorreu durante a transmissão da vitória da seleção brasileira sobre a Suíça, pela segunda rodada do Mundial disputado no Qatar.

É muito importante salientar que este foi um jogo que estava disponível em TV aberta na maior emissora do país, a Globo, que conseguiu uma audiência muito considerável com a partida. Foram 50 pontos de média no PNT (Painel Nacional de Televisão), de acordo com dados prévios do Ibope, e 76% de participação sobre o total de televisores ligados no momento da partida.

Ou seja, Casimiro não se aproveitou de exclusividades. O jogo que até ontem detinha o posto de maior live de futebol no Brasil era a final da Champions League de 2020, entre Bayern e o PSG de Neymar. Essa partida estava na TV paga, no canal TNT, mas ficou fora da TV aberta e ainda disputou foco na tarde de um domingo com uma rodada do Brasileirão daquele ano, podendo muitas vezes ter sido a segunda tela de quem viu Palmeiras x Santos, o jogo da Globo SP naquele dia.

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A final da Taça Rio de 2020, que era o jogo mais visto do YouTube no Brasil até começar a Copa com transmissões de Casimiro, é outro exemplo válido. A Globo tinha rompido com a Ferj e os clubes do Cariocão, e aquele Fluminense x Flamengo foi exclusivo da internet. Alcançou picos de 3,7 milhões e fez história também, mas sem concorrência da TV.

O sucesso das lives de Casimiro indica que há um público disposto cada vez mais a ver os jogos pela internet, ainda que estejam disponíveis na TV. O delay, que ainda é um problema das transmissões online, varia entre oito e 24 segundos no YouTube em relação ao sinal aberto digital da Globo em São Paulo, onde a coluna fez os testes durante os jogos da Copa.

Por essa sensação de que as pessoas preferem ver na TV aberta sem risco de tomar "spoiler" de gol dos vizinhos, era mais seguro imaginar que Casimiro seria o refúgio de quem não teria uma televisão por perto nesta Copa, precisaria ver jogos no trabalho, na rua, nos comércios, mas o tamanho dessa audiência transcende essas questões.

O próprio time da CazéTV lançou enquete durante o jogo do Brasil para saber de onde os espectadores estavam acompanhando a transmissão. Quando a pergunta alcançou 163 mil respostas, 73% dos espectadores indicaram estar em casa, contra 23% no trabalho, 3% em meios de transporte e 1% em bares ou restaurantes.

É claro que isso não é uma pesquisa com base científica, e sim uma enquete de internet. É possível que quem estivesse no trabalho não tivesse conseguido responder justamente por não conseguir dar atenção ao chat onde a pergunta foi lançada. Mas há um volume considerável, sim, de pessoas que acompanharam em seus domicílios.

Outra indicação que surge a partir disso é que há terreno fértil para a exploração de jogos na internet que não sejam exclusivos. O mercado do streaming entrou rasgando no futebol nos últimos anos querendo mais e mais partidas que não estivessem disponíveis na televisão. O Facebook tinha seus exclusivos na Champions e na Libertadores.

Serviços pagos entenderam que só atrairiam assinantes se fechassem seus jogos em suas plataformas. DAZN tomou para si a Sul-Americana e a Recopa em 2019 e parte de 2020, o Star+, da Disney, e a HBO Max, da Warner, usam várias e várias vezes o expediente de deixar jogos fora da TV paga para tentar conquistar assinaturas no streaming.

Nesse caminho, o YouTube já havia mostrado ser possível conseguir boas audiências em jogos não exclusivos. No Paulistão 2022, nenhuma partida era totalmente exclusiva da plataforma, os jogos também estavam disponíveis no Premiere (PPV vendido na TV paga e também diretamente pela internet) e no Paulistão Play (outro PPV da Federação Paulista de Futebol). Nas finais, os jogos foram compartilhados ainda com a Record, R7, HBO Max e Estádio TNT Sports.

A exploração de direitos que estavam livres no mercado após a Globo abrir mão da exclusividade digital foi uma oportunidade à qual Casimiro se agarrou em uma costura promovida pela LiveMode, empresa que hoje cuida da carreira do streamer e também é parceira da Fifa. Mas o futuro sinaliza com novas oportunidades que o próprio Cazé ou outros players poderão aproveitar.

Segundo informaram recentemente os sites Poder360, Notícias da TV e Máquina do Esporte, a Globo renovou contrato com a Fifa até a Copa do Mundo de 2026 sem qualquer tipo de exclusividade. É muito difícil que emissoras abertas, como SBT, Record e Band, se empolguem muito com a possibilidade de compra desses direitos, pois a Globo concentra audiência e investimentos em publicidade dentro de uma mídia que é muito restrita a poucas redes.

Na internet, porém, a corrida pelo próximo Mundial já pode começar. Os números de Casimiro, que podem ser ainda maiores à medida que a seleção conseguir avançar na Copa deste ano, certamente vão empolgar o mundo do streaming mesmo tendo a Globo como presença garantida na Copa daqui a quase quatro anos.

No campo do conteúdo, o sucesso de Casimiro mostra que há espaço cada vez maior para quem quer uma transmissão mais descontraída, sem a rigidez característica da TV aberta, sem tirar audiência da mídia mais tradicional. Os dois formatos deverão coexistir nos próximos anos em escalas cada vez maiores. É nisso que precisam pensar os dirigentes do futebol brasileiro nas futuras negociações de direitos de transmissão. Há espaço para todos.

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