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Allan Simon

OPINIÃO

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Título épico de Messi é a despedida perfeita para Galvão Bueno em Copas

Galvão Bueno se despediu como narrador em Copas do Mundo com a cobertura do tri da Argentina - Reprodução
Galvão Bueno se despediu como narrador em Copas do Mundo com a cobertura do tri da Argentina Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

18/12/2022 14h56

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A despedida de Galvão Bueno como narrador na TV aberta só tinha um cenário melhor do que a realidade impôs: o hexa do Brasil. Como não era mais possível desde a eliminação da seleção brasileira nas quartas de final diante da Croácia, a partida final de Galvão em Copas ganhou contornos geniais, como se a vida ou os deuses do futebol tivessem arquitetado cada detalhe.

A vitória da Argentina sobre a França na final da Copa do Mundo de 2022, no Qatar, interrompeu uma sequência de quatro Mundiais vencidos apenas por seleções europeias. Mais importante ainda: foi a coroação de um dos maiores jogadores de todos os tempos, Lionel Messi, como campeão mundial por seu país, um título inédito em sua gloriosa carreira.

Por mais que tenha faturado títulos e mais títulos de clubes na Europa, principalmente na brilhante trajetória com o Barcelona, provavelmente nenhum jogo na carreira de Messi terá sido maior do que a vitória sobre os franceses hoje no Qatar. E esse duelo está eternizado na mídia brasileira com a voz de Galvão Bueno. Se o argentino confirmar sua aposentadoria em Copas, Galvão e Messi terão em comum também a última partida de cada um nos Mundiais.

O último ato de Galvão Bueno na função que o transformou em um mito da comunicação brasileira é também o jogo que solidificou Lionel Messi como um deus definitivo no esporte mundial. Ficou até simbólico o momento em que os dois estiveram próximos durante o aquecimento.

A Globo conseguiu uma exceção da Fifa para montar um púlpito ao lado do gramado, algo reservado apenas para os detentores dos países envolvidos no jogo. O narrador fez direto do campo a sua participação no pré-jogo e chegou a ficar a alguns passos de Messi.

Os contornos de drama que a partida ganhou quando a França buscou um empate na segunda etapa do tempo normal após estar perdendo por 2 a 0 serviram para tornar tudo ainda mais épico. O gol na prorrogação que sacramentou a conquista argentina parecia uma ironia do destino, já que foi assim que o time de Messi perdeu a final de 2014 para a Alemanha. Mas logo veio um novo empate francês que elevou o sofrimento e levou a disputa para os pênaltis, de onde só então viria o tri da Argentina.

Galvão fez toda a sua trajetória na TV baseada em ser a voz que emocionou os brasileiros com os títulos mundiais no esporte. Os dois da seleção brasileira em Copas que tiveram sua narração, as finais de 1994 e 2002. Os títulos mundiais de clubes do Flamengo em 1981, do Grêmio em 1983, do São Paulo em 1993 e 2005, do Internacional em 2006 e do Corinthians em 2012. Os títulos mundiais na Fórmula 1 com Nelson Piquet e Ayrton Senna. Os títulos do vôlei, as medalhas olímpicas.

Nessas quatro décadas só de TV Globo, foram inúmeras as vezes em que Galvão Bueno usou a rivalidade contra a Argentina como um tempero a mais para apimentar as transmissões dos grandes clássicos. "Ganhar é bom, ganhar da Argentina é muito melhor", repetia o narrador em conquistas como a Copa das Confederações de 2005, e as duas taças da Copa América em 2004 e 2007.

Com Messi no caminho da glória, e diante de um decepcionante Brasil que não brilhou na Copa que poderia ter sido a do "é hexa" depois do "é tetra" e do "é penta", Galvão amenizou o tom e passou a torcer pelos argentinos. Declarou isso logo após a eliminação brasileira contra os croatas. No último jogo, usou o argumento da estatística por continente nas Copas, dizendo que a América do Sul poderia diminuir a vantagem da Europa em número de títulos mundiais.

Só mesmo um gênio como Lionel Messi poderia causar essa mudança de tom no trabalho de Galvão Bueno. E era extremamente necessário que um gênio como Galvão Bueno fosse o narrador da partida que deu a um dos maiores jogadores da história o troféu que faltava em sua carreira.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL