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Como ficaria a venda de TV do Brasileirão com os atuais blocos de clubes
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As discussões sobre o futuro dos direitos comerciais e de transmissão do Brasileirão ganharam mais um capítulo hoje com a adesão do Vasco a um acordo com o fundo de investimentos Serengeti e a gestora LCP (Life Capital Partners). Os dois são os mesmos investidores da LFF (Liga Forte Futebol), mas o clube carioca não entrou oficialmente neste bloco, fechando um acordo em separado.
Esse foi o mesmo movimento que fizeram Botafogo, Cruzeiro e Coritiba, que agora junto ao Vasco formam um bloco chamado "Grupo União". Com isso, Serengeti e LCP representariam hoje 12 dos 20 atuais clubes da Série A do Brasileirão. Na média de participações dos últimos cinco anos, considerando acessos e rebaixamentos, seriam 13 de 20 (chegando a ser 14 em 2022).
A Libra, bloco formado por Flamengo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Grêmio, Bahia, Red Bull Bragantino e outros clubes atualmente na Série B, principalmente do interior paulista, se vê agora em um cenário minoritário, apesar de representar várias das maiores torcidas do país, com destaque para o Rubro-Negro e o Timão. Ela possui oito dos atuais participantes da Série A.
Lei hoje é diferente e muda dinâmica de negociação
Em vigor no Brasil desde o início desta década, a lei do mandante garante a cada clube do Brasileirão o direito exclusivo de negociar seus 19 jogos em casa com a televisão e plataformas de streaming.
É uma realidade bem diferente da última negociação do campeonato, feita principalmente em 2016, quando Globo e a então Turner (hoje WarnerBros Discovery) disputaram clubes e só podiam mostrar jogos entre duas equipes fechadas com cada canal, criando um "limbo" quando partidas eram de times fechados com o Sportv contra equipes do Esporte Interativo.
Como seria a venda dos direitos de hoje com o formato de blocos
Imaginando que valesse já para esta edição do Brasileirão o modelo de vendas que se dividisse em blocos comerciais, os 380 jogos do Campeonato Brasileiro de 2023 estariam repartidos da seguinte forma: 152 jogos para a Libra, 152 para a Liga Forte Futebol, e 76 para o Grupo União. Na prática, Serengeti e LCP teriam em seu "pacote" a soma de LFF e União, totalizando 228 partidas.
A LFF tem hoje entre os participantes da Série A oito clubes: Fluminense, Atlético-MG, Internacional, Fortaleza, Athletico-PR, Cuiabá, Goiás e América-MG. O Galo e o Colorado ainda acertam procedimentos internos para a assinatura do contrato com a Serengeti e a LCP para a representação na comercialização dos direitos.
Em média, no Brasileirão deste ano, a Libra teria quatro jogos por rodada para vender para a TV, enquanto LFF e União teriam seis.
Na rodada do próximo fim de semana, por exemplo, a Libra teria para vender os duelos Palmeiras x Flamengo, Santos x Goiás, Red Bull Bragantino x São Paulo, e Grêmio x Botafogo.
LFF e Grupo União teriam Cuiabá x Bahia, Vasco x Cruzeiro, Atlético-MG x Corinthians, Coritiba x América-MG, Fluminense x Internacional e Fortaleza x Athletico.
Se formos usar a última rodada da edição deste ano do Campeonato Brasileiro, imaginando um cenário de definições apenas em dezembro para título, vagas em competições continentais e rebaixamentos, o grupo da Libra teria apenas três jogos: Bahia x Atlético-MG, Santos x Fortaleza e São Paulo x Flamengo. LFF e União ficariam com Internacional x Botafogo, Coritiba x Corinthians, Fluminense x Grêmio, Cruzeiro x Palmeiras, Cuiabá x Athletico, Goiás x América-MG e Vasco x Red Bull Bragantino.
Divisão seria confusa para o torcedor
Para o torcedor, isso significaria um possível cenário de jogos ainda mais pulverizados em diversos canais e streamings, além da dificuldade para a existência de um PPV agregador de quase todo o conteúdo, como funciona atualmente o Premiere, que só não tem os jogos do Athletico como mandante.
Para os clubes, a realidade atual mostra que a lei do mandante criou um cenário no qual mesmo os times com maiores audiências na Libra, como Flamengo, Corinthians, São Paulo e Palmeiras, estariam presentes no pacote de jogos dos investidores da LFF. Cada um deles estaria presente nos direitos de transmissão do lado oposto em 12 de suas 38 partidas no Brasileirão.
Por mais que Flamengo, Corinthians, São Paulo ou Palmeiras, cada um gere uma audiência maior em seus jogos, por vezes essas audiências seriam valores agregados aos adversários detentores do mando de campo.
Segundo dados obtidos pela coluna, o conjunto de jogos da Libra tem uma média nacional na TV aberta de 19,6 pontos de audiência, contra 18,7 dos jogos de LFF e União. Uma diferença pequena que acaba sendo revertida pela quantidade de jogos de cada pacote.
Um grupo teria 152 jogos com cerca de 20 pontos de média no Ibope, enquanto o outro lado teria 228 partidas com quase 19 pontos. Isso ocorre porque há jogos de Flamengo e dos grandes paulistas enquanto visitantes aumentando a média do outro lado.
Nos clássicos cariocas, por exemplo, apenas aqueles com mando do Flamengo estariam com a Libra. Além dos confrontos entre Fluminense, Botafogo e Vasco, os jogos com mandos deles contra o Rubro-Negro também fazem parte do pacote da Serengeti + LCP. Já a Libra teria todos os clássicos paulistas, já que os clubes do estado fazem parte de seu grupo.
Modelo atual da Globo ficaria dificultado
Há mais de duas décadas o torcedor se acostumou a um modelo de transmissão do Brasileirão no qual a TV Globo tem os direitos de três partidas por rodada para usar com divisão de praças (embora não esteja usando toda a cota recentemente), o sportv possui duas partidas para TV paga, e o restante é garantido com uma assinatura do Premiere.
As exceções foram o curto período em que o Esporte Interativo/TNT Sports levou parte dos clubes na TV por assinatura, entre 2019 e 2021, e também o caso do Athletico Paranaense, que não negociou seus direitos de PPV com a Globo a partir de 2019, criou seu próprio serviço de pay-per-view a partir da lei do mandante, fez acordo de transmissões com o streamer Casimiro Miguel, da CazéTV, e recentemente voltou a aparecer na TNT como mandante, único clube fora do sportv no atual cenário.
Para manter o modelo de controle total ou majoritário dos direitos, a Globo ou outra empresa que quisesse repetir o trabalho feito pela emissora nos últimos anos teria que fazer acordo com todos os blocos comerciais, comprando os direitos da Libra e dos dois grupos representados por Serengeti e LCP.
Se fizesse apenas um acordo com a Libra, por exemplo, a Globo teria apenas quatro partidas em média por rodada na atual edição. No cenário em que a representação da Libra cai para sete clubes na Série A, esse número ficaria até abaixo disso. Além disso, a TV Globo teria que transmitir sempre os jogos desses clubes em casa, não tendo liberdade de escolha a cada rodada, como tem atualmente.
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