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O que a Globo perde (e o que outras ganham) com só metade dos jogos da Copa
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A Globo vai ter direito de transmitir apenas metade dos jogos da Copa do Mundo de 2026. A notícia foi oficializada em evento realizado ontem no Rio de Janeiro, quando o diretor de conteúdo do Esporte na emissora, Renato Ribeiro, confirmou que o modelo que será seguido na Copa do Mundo Feminina de 2023 será o mesmo para o evento masculino daqui a três anos.
Mas o que a Globo perde com isso? Antes de mais nada, é preciso detalhar bem o que será o modelo que a emissora vai levar ao ar na próxima Copa masculina. A coluna conversou com os diretores da emissora para entender o funcionamento.
Primeiro: a empresa como um todo terá metade do Mundial, ou seja, 52 dos 104 jogos no novo formato que a Fifa vai implantar após a ampliação para 48 seleções participantes. Isso significa que o sportv, o ge, o Globoplay e a TV Globo fazem parte desse mesmo limite.
Segundo: os direitos não são exclusivos, assim como já está acontecendo com a Copa feminina. A Globo deteve a exclusividade total da edição masculina entre 2002 e 2022 na TV, abrindo mão apenas do controle no digital na competição realizada no Qatar no ano passado, quando a CazéTV e o Fifa+ transmitiram jogos ao vivo.
Terceiro: a Globo terá sempre metade dos jogos da Copa, mas garantirá a totalidade das partidas que envolvem a seleção brasileira. Ou seja, se a primeira fase do Mundial-2026 tiver 72 partidas, a empresa vai poder exibir 36. No primeiro mata-mata, que deverá reunir 32 equipes em 16 jogos, a emissora terá oito partidas. Nas oitavas de final, serão quatro. Nas quartas de final, duas, além de uma semifinal e a final.
(A conta final pode não ser tão exata assim, já que a edição feminina tem 64 jogos e os canais Globo mostrarão 34, dois a mais que a metade)
Quarto: o modelo poderá ser parecido com o que será visto na Copa do Mundo Feminina agora, em que a Globo tem prioridade para escolher seus jogos, mas não pode pegar tudo, já que a CazéTV e o Fifa+ terão a competição completa no streaming e também poderão pegar a exclusividade de partidas importantes que não tenham a seleção brasileira em campo.
Para 2026, fica em aberto o modelo de escolhas, porque isso vai depender de com quem a Fifa vai negociar os demais direitos da Copa do Mundo. E aí que chegamos ao ponto principal desta análise: o que a Globo perde e o que as outras ganham com essa "perda" de poder da maior emissora do país?
A Globo perde muito mais na TV paga do que na TV aberta. Ao sportv é provável que faça falta não ter todos os 104 jogos da Copa do Mundo de 2026, talvez até vendo alguma concorrente como a ESPN levar o pacote completo ou um complementar em relação aos seus. Ainda mais porque a edição masculina paralisa completamente o futebol durante mais de um mês, e um canal linear que respira esportes pode sentir falta de uma parcela tão grande do evento que ele transmite desde os anos 1990 de maneira completa.
Na TV aberta, a Globo não deve sentir tanta falta assim dos outros jogos. A emissora não corre riscos de perder qualquer partida da seleção brasileira, terá uma edição da Copa do Mundo realizada nos Estados Unidos, México e Canadá, com um fuso horário que faria o canal mexer muito em sua grade de programação para acomodar 104 partidas, e a própria expansão do evento poderia colocar no ar jogos de pouco interesse para o público geral desta mídia.
"Copa é Copa", alguns podem até corretamente pensar, imaginando que qualquer jogo levanta a audiência em clima de Copa do Mundo no Brasil. Mas nunca testamos um volume tão grande de jogos em tão pouco tempo, e sem ainda saber ao certo qual será o impacto desse aumento de seleções participantes na qualidade do evento.
E o que as outras ganham? Oportunidade. Rival do sportv na audiência em diversos momentos do ano com transmissões de futebol internacional, competições com clubes brasileiros, como Libertadores e Sul-Americana, etc, a ESPN é um canal que poderia aproveitar essa brecha aberta pelo novo formato do acordo da Globo com a Fifa.
Como os jogos do sportv seriam os mesmos do pacote da TV Globo, se a ESPN (ou qualquer outro canal pago) pegasse a exclusividade das outras partidas, poderia surfar sem concorrência de TV aberta nesses duelos. O mesmo se aplica a projetos de transmissões na internet, como foi a CazéTV, que bateu recordes no YouTube e na Twitch com a Copa de 2022.
Na TV aberta, a situação é um pouco menos confortável, já que a presença da TV Globo com os jogos do Brasil e uma carga de pelo menos 52 transmissões (apenas quatro jogos ao vivo a menos que o total bruto das Copas passadas) poderia já concentrar a maior parte da audiência e do investimento do mercado publicitário.
Mas a janela de oportunidade está aberta. Se a TV Globo não quiser escolher jogos sem Brasil que forcem mudanças na grade e talvez mexam com Jornal Nacional e novelas, seria um investimento importante para SBT, Record ou Band ter essas partidas para se colocar como opções. Mas o negócio é mais complicado, e não se sabe como estará o investimento no futebol em TV aberta até lá.
Vale lembrar que as Olimpíadas também possuem um contrato sem exclusividade com a Globo em TV aberta e, mesmo assim, nenhum outro canal concorrente nesta mídia quis comprar os Jogos de Tóquio, realizados em 2021, e ninguém até agora comprou a próxima edição, que acontecerá em 2024 na cidade de Paris. Será que a Copa fará diferente? Cenas dos próximos capítulos na mídia esportiva.
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