Allan Simon

Allan Simon

Siga nas redes
OpiniãoEsporte

Fã de futebol precisa encarar nova realidade: não cabe mais tudo na Globo

O mais recente choque de realidade no torcedor brasileiro foi a publicação da tabela das semifinais da Copa do Brasil com a informação de que os dois clássicos entre Corinthians e São Paulo não terão transmissão ao vivo da TV Globo, ficando restritos às plataformas pagas que transmitem o torneio (sportv, Premiere e Amazon Prime Video). Apenas Flamengo x Grêmio, tanto na ida quanto na volta, estará na TV aberta.

Na semana passada, a notícia que surpreendeu muita gente foi a de que a Globo (empresa, não só o canal aberto) possui os direitos de transmissão de apenas metade da Copa do Mundo de 2026. Aliás, metade de todos os campeonatos de seleções organizados pela Fifa neste ciclo, modelo que já vale na Copa do Mundo Feminina que começa nesta semana na Austrália e Nova Zelândia.

Em poucos dias, a Conmebol deve publicar a tabela atualizada com os jogos das oitavas de final da Libertadores. Se mantida a lógica das datas e horários já divulgados, a TV Globo deve transmitir Atlético-MG x Palmeiras, deixando os jogos do Flamengo contra o Olimpia para plataformas pagas. E nenhuma dessas plataformas pagas, aliás, é da Globo. Paramount e ESPN (da Disney) transmitem a competição.

São três exemplos, mas não os únicos, de que o mundo do futebol na televisão mudou e não tem mais volta. Os direitos de transmissão dispararam em valores nos últimos anos, a concorrência de empresas estrangeiras com seus dólares tornou a disputa mais pesada, e hoje é possível afirmar: não cabe mais tudo na Globo, como antigamente.

Nas duas primeiras décadas deste século, contamos nos dedos as vezes em que a Globo não dominou algum evento grande. A emissora e seus canais pagos estavam presentes sempre na Copa do Mundo, Brasileirão, Copa do Brasil, nos principais estaduais, na Libertadores, Copa Sul-Americana, eventos Fifa em geral e Olimpíadas.

Tanto era assim que são memoráveis as exceções: os Jogos Olímpicos de Londres-2012, exclusivos da Record na TV aberta, edições dos Jogos Pan-Americanos a partir de 2011, a Libertadores de 2002 em suas primeiras fases (TV Globo conseguiu entrar na reta final), ou a de 2012 na TV paga (Fox Sports chegou ao país retomando os direitos e deixando o sportv fora no primeiro ano).

Desde o segundo semestre de 2020, porém, tudo começou a mudar. A Globo teve que abrir mão da Libertadores (que só recuperaria em 2023 na TV aberta, mas até hoje está fora em plataformas pagas), do Paulistão em TV aberta e TV paga (só manteve o PPV em 2022 e 2023), do Cariocão, da Fórmula 1, do UFC, de metade dos jogos da Copa do Mundo a partir de 2026, deixou de exibir o Mundial de Clubes com Palmeiras na edição realizada em fevereiro de 2022 (transmitida pela Band), vendeu um pedaço da Copa do Brasil para a Amazon, etc.

Hoje, a Globo ainda se mantém como a empresa mais relevante do país em direitos de transmissão fazendo o "jogo do possível". Tem praticamente tudo do Brasileirão até 2024, sairá como forte candidata nas negociações com os blocos comerciais formados pelos clubes para 2025, renovou a Copa do Brasil até 2026, tem a Libertadores na TV aberta garantida pelo mesmo período, as Olimpíadas são dela até 2032, mas nada disso é absolutamente exclusivo em todas as mídias.

Com direitos caríssimos e muitos players no mercado, o futebol não cabe mais em um lugar só. Resta agora saber se o mercado publicitário e o bolso do torcedor vão dar suporte por muito tempo a tantos serviços diferentes e pagos de streaming e TV para ver as mesmas competições que antes estavam todas sob o guarda-chuva da Globo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes