Transmissão do Pan começa com problemas e precisa de melhorias na CazéTV
O primeiro fim de semana de transmissões dos Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023 no modelo "maratona", ou seja, com diversas modalidades ao longo de manhã, tarde e noite, mostrou as primeiras impressões deixadas pela CazéTV, um dos canais que transmitem o evento no streaming, ao lado do Canal Olímpico do Brasil e do Panam Sports Channel.
A CazéTV, canal produzido pela LiveMode em parceria com o streamer Casimiro Miguel, já coleciona números históricos em transmissões de futebol e até mesmo eventos alternativos, como a Copa Acerj (torneio de imprensa do Rio de Janeiro) e as disputas da modalidade X1. Mas agora faz seu primeiro grande teste em um evento que demanda múltipla atenção com várias competições simultâneas.
O canal se preparou para o Pan e organizou o modelo de cobertura da seguinte forma: uma "Superlive" seria montada para acompanhar os principais acontecimentos ao longo do dia, com equipes de transmissão se revezando ao longo dos "turnos" e as modalidades se alternando na tela principal. Em algumas oportunidades, um mosaico era usado para dividir a transmissão em mais de uma tela com eventos e as imagens da própria equipe da CazéTV nos estúdios.
Além dessa "Superlive", outras lives eram abertas com transmissões específicas de eventos determinados. No sábado, a estreia da seleção feminina de vôlei, as finais do skate street no feminino e no masculino, e as classificatórias e finais da ginástica artística masculina ganharam esses espaços exclusivos. Isso é uma boa ideia, pois deu aos fãs específicos destas modalidades a chance de verem sem muitas interrupções os seus esportes preferidos.
O problema mesmo foi com a "Superlive", a transmissão de "fôlego". A CazéTV já mostrou competições diversas em parceria com o Canal Olímpico, mas nesses casos as transmissões tinham mais a "cara" do parceiro do que dela mesma. Isso mudou agora no Pan com a presença de diversos convidados ao mesmo tempo no ar.
Ou seja, por aí já entendemos que é normal o "choque" que o fã de esportes olímpicos sofreu ao ver uma cobertura de fôlego como a do Pan ter momentos como Thiago Pereira e Karen Jonz, nomes históricos da natação e do skate, sendo os comentaristas de plantão enquanto saía uma medalha brasileira, a primeira no evento, no ciclismo mountain bike.
Ou, pouco depois, a live com o surfista Pedro Scooby tecendo comentários sobre skate e dizendo do lado de Karen Jonz, a primeira mulher brasileira campeã mundial no skate, que Letícia Bufoni foi pioneira na modalidade, algo pelo qual ele pediu desculpas horas depois no ar.
Parte da cobertura diária é conduzida por um narrador que possui conhecimento sobre vários esportes e gosta muito do evento, Luisinho, ex-TNT e Esporte Interativo. Outra parte é conduzida por Bruno Cantarelli, que tem conquistado muito sucesso profissional, mas no Pan não demonstra a mesma intimidade com modalidades além do futebol e às vezes fica parecendo apenas um "animador" do que está transmitindo.
Isso aconteceu no beisebol na manhã de domingo, um esporte que é pouco popular no Brasil, mas é exibido há anos na TV paga, e também no sábado com a ginástica artística masculina, uma modalidade com histórico vencedor dos brasileiros. O narrador não parecia ter conhecimento sobre os aparelhos nos quais os atletas faziam suas apresentações.
O Pan na CazéTV é um bom feito para o canal em sua história na mídia, mas é preciso entender que a marca está fazendo algo muito diferente de tudo o que já transmitiu até agora. O público do futebol é muito mais acostumado ao estilo das transmissões, que carregam a marca de Casimiro e sua equipe. Os fãs de outros esportes, nem sempre.
Uma Copa do Mundo é muito mais centrada, o foco é sempre o jogo do momento, o máximo que acontece é haver duas partidas simultâneas na fase de grupos em sua última rodada (e esta coluna elogiou muito como a CazéTV lidou com isso ano passado na Copa, informando bem em tempo real o que acontecia nos dois jogos, mesmo não tendo os direitos da outra partida que não estava sendo transmitida na hora).
O estilo descontraído que é característico da CazéTV não precisa ser modificado para agradar ao público específico de uma modalidade, mas a produção tem que entender que a linguagem tem que ser amigável para chegar a mais pessoas diferentes.
A "resenha", tão consagrada no futebol, ainda não é do costume de quem curte esportes olímpicos e está se deparando com a primeira edição de Jogos Pan-Americanos foram da TV aberta tradicional em décadas. Mas até a resenha precisa ter conteúdo e conhecimento.
Não tem jeito, para entender como o público recebe uma transmissão de fôlego é necessário lembrar que o "padrão Globo" moldou nossa forma de ver os grandes eventos. A Record sofreu demais com críticas quando teve a exclusividade de três edições do Pan na TV aberta e até mesmo das Olimpíadas de 2012 porque não tinha qualidade igual. É do jogo. Sempre haverá essa "sombra" sobre quem transmitir um evento que já foi um dia da Globo. Que o diga o SBT na Libertadores.
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Quero receberMas isso não pode servir para identificar todas as críticas como se fossem exageradas ou persecutórias. A CazéTV tem bom histórico de lidar com críticas e fazer alterações no meio do percurso. Casimiro Miguel tem essa característica, falando muitas vezes no ar sobre as críticas que recebe e aceitando quando elas são consideradas justas por ele.
Agora é a hora de colocar isso em prática de novo. As escalas precisam prever melhor as chances de medalhas brasileiras, especialistas de modalidades que podem trazer essas medalhas precisam estar prontos para serem acionados quando elas acontecerem, e o estilo de resenha precisa se encaixar em um contexto de informação.
A CazéTV não é a única opção no Pan. Quem quer uma transmissão mais tradicional tem o Canal Olímpico do Brasil no mesmo YouTube. O canal de Casimiro também entrega, como já apontado aqui, transmissões mais específicas de eventos ao longo do dia, fora da "Superlive". Mas isso não pode fazer com que o canal de Casimiro se feche em torno dessa diferença de linguagens para não ouvir o que o público fã de esportes tem a dizer.
A transmissão do vôlei feminino no domingo, com o segundo jogo do Brasil diante da Argentina, já apresentou um tom bem mais centrado e mantendo o tom de resenha. O caminho é tratar toda a cobertura assim, pois o Pan está só no começo e a audiência ainda deve aumentar bastante conforme o público vai se informando sobre o evento.
Para finalizar, é preciso falar de um ponto importante que não tem culpa da CazéTV: a geração oficial da transmissão do Pan, feita pela Panam Sports, é muito ruim. Deixa o público muitas vezes na mão com informações e gráficos que desaparecem da tela, imagens perdidas em momentos relevantes das disputas, como no beisebol, no skate e no ciclismo. E esse problema afeta todo mundo que transmite, pois a imagem é a mesma em todos os detentores de direitos de transmissão.
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